SAÚDE E COVID-19

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O CARAMUJO BIOMPHALARIA DO MUSES: O VETOR DA ESQUISTOSSOMOSE

Atualmente, o acervo do Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses) conta com a peça de um caramujo do gênero Biomphalaria, vetor da esquistossomose. Você já ouviu falar dessa doença ou conhece alguém que já foi afetado por ela?

A esquistossomose, também conhecida como barriga d’água, febre do caramujo ou bilharzíase, é uma doença infecto-parasitária causada por vermes do gênero Schistosoma, transmitidos por gastrópodes do gênero Biomphalaria. Essa doença ocorre em países tropicais da África, Ásia, Oriente Médio e Américas Central e do Sul e pode evoluir desde formas assintomáticas até formas clínicas graves. Comum em lugares que não possuem saneamento básico e acesso à água potável, só em 2015 estimou-se que cerca de 250 milhões de pessoas foram afetadas pela esquistossomose. Segundo o artigo Aspectos epidemiológicos e distribuição dos casos de infecção pelo Schistosoma mansoni em municípios do Estado de Alagoas, Brasil (2016), só em terras brasileiras aproximadamente 43 milhões de pessoas vivem em áreas de risco de contaminação, em sua maioria distribuídas nas regiões Nordeste e Sudeste.

O caramujo transmissor da esquistossomose presente no Muses faz parte da coleção [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS] e chegou à instituição por meio de [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS]. O animal é uma espécie que vive perto de rios e lagos de água doce, podendo medir entre 7 a 40mm de diâmetro e apresentando uma concha de cor amarelo-palha. A coloração pode variar com as substâncias contidas no ambiente em que vivem. Quando em estágio adulto, esses gastrópodes adquirem cores diversas como castanho, ocre ou prata. 

Assim como no caso do caramujo-gigante-africano (o Achatina fulica, que você pode conhecer no evento 

, o caramujo Biomphalaria é outro exemplo do quanto a fauna pode impactar na sobrevivência humana. Esse molusco é uma espécie parasita, ou seja, necessita de um hospedeiro vertebrado para completar seu ciclo de vida e continuar se reproduzindo. Com a expansão populacional nos últimos séculos, vários ecossistemas foram ocupados para a construção de cidades, resultado de processos contínuos de urbanização, como também pode ser observado no evento 

Com a perda de habitat natural, muitas espécies (parasitárias ou não) passaram a ocupar espaços construídos, aproximando ainda mais o contato com os seres humanos e transmitindo doenças como a esquistossomose, que antes só ocorria em animais silvestres.

O exemplo mais recente de que o desequilíbrio ambiental é prejudicial à saúde ocorreu no final de 2019, em Wuhan, cidade situada na província chinesa de Hubei. Foi nela que foram detectados os primeiros casos de Sars-CoV-2, popularmente conhecida como Covid-19 (sigla em inglês para “coronavirus disease 2019”) ou novo coronavírus. Diferente da esquistossomose, tida como uma doença endêmica, o novo coronavírus pôs o mundo em alerta ao ponto da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (Espii). Este é o mais alto nível de alerta sanitário, que viabilizou o entendimento do novo coronavírus pela entidade como uma pandemia, em março de 2020. Mas antes de compreender a origem da Covid-19, é fundamental conhecer os estágios de classificação de uma doença utilizados por países e entidades internacionais.

SURTO, ENDEMIA, EPIDEMIA E PANDEMIA: 

A CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS

Desde a criação da OMS, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), em 1947, o Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (Espii) já foi declarado em seis momentos específicos: na pandemia de H1N1 (abril de 2009), na disseminação internacional de poliovírus (maio de 2014), no surto de Ebola na África Ocidental (agosto de 2014), a disseminação do zika vírus e aumento de casos de microcefalia e outras malformações congênitas (fevereiro de 2016), no surto de Ebola na República Democrática do Congo (maio de 2018) e no surto do novo coronavírus (janeiro de 2020).

De acordo com o Regulamento Sanitário Internacional (RSI) definido pela OMS e ratificado por 196 países em todo o mundo, esse mecanismo é “um evento extraordinário que pode constituir um risco de saúde pública para outros países devida a disseminação internacional de doenças; e potencialmente requer uma resposta internacional coordenada e declarada”. Com a rápida propagação do Sars-CoV-2 nos primeiros meses de 2020, em março daquele ano a OMS caracterizou a Covid-19 como uma pandemia. Mas afinal de contas, o que isso significa? Qual a diferença entre surto, endemia, epidemia e pandemia, por exemplo? 

Ainda que tais termos sejam utilizados para classificar o alcance de uma doença, suas interpretações são variáveis, até mesmo entre especialistas, epidemiologistas e organizações voltadas à saúde. Em termos gerais:

  • Os surtos são caracterizados por um aumento repentino e brusco do número de infectados de uma determinada doença, em um local específico. Um exemplo são os casos decorrentes de dengue que acontecem anualmente no Brasil, em períodos e locais determinados;
  • As epidemias acontecem quando os surtos tomam proporções maiores, abrangendo mais regiões de uma cidade ou um estado. Também podem ser definidos como “surtos regionais”, como o Ebola na região da África Ocidental em 2014;
  • As pandemias representam um agravamento do cenário inicial de uma epidemia. Conceitualmente, o que valerá mais nesse caso será a amplitude das áreas infectadas por determinada doença, que pode alcançar países e continentes inteiros. Para que a OMS reconhecesse, por exemplo, o cenário de pandemia da Covid-19, países de todos os continente precisaram ter casos confirmados da doença;
  • Já as endemias têm maior relação com a recorrência dos casos de determinada enfermidade em uma região específica. No Brasil, dois exemplos disso são a febre amarela (comum na região Norte) e a esquistossomose (frequente nas regiões Nordeste e Sudeste).

ONDE E COMO SURGEM AS PANDEMIAS?

Diretora de Meio Ambiente da OMS: “70% dos últimos surtos epidêmicos começaram com o desmatamento” - esse é o título de uma matéria publicada em fevereiro de 2021, pelo jornal espanhol EL PAÍS. Nele, a médica espanhola María Neira (1962-), atual diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde, alerta para dados que relacionam as pressões ambientais provocadas pela humanidade com as epidemias recentes do ebola, do HIV e do novo coronavírus. Assim como acontece com a esquistossomose, essas outras doenças causadas por vírus saltaram de animais para seres humanos após distúrbios ecológicos causados em biomas tropicais. O Ebola, por exemplo, foi transmitido de morcegos frugívoros da África Ocidental para os seres humanos. Segundo Neira, trânsito semelhante ocorreu com os vírus que causam a Aids e as diversas variantes do coronavírus.

Acerca do desmatamento, a ONU estima que, desde 1990, cerca de 420 milhões de hectares de floresta tropical tenham sido convertidos para outros fins. A América Latina, onde fica boa parte da Amazônia, maior floresta tropical do mundo, chegou a 2,5 milhões de hectares devastados a cada ano. Desde quando a ONU começou a realizar tais medições, as áreas de floresta primária (mata intocada pelos seres humanos) no mundo foram reduzidas em mais de 80 milhões de hectares. Além disso, entre 1990 e 2020 a área florestal global diminuiu em 178 milhões de hectares.

Dentre os principais fatores de desmatamento, a expansão agrícola é a principal delas, tendo sido responsável por 40% do desmatamento tropical só na década de 2000. Além das ações em florestas tropicais, María Neira ainda indica que o uso desenfreado de combustíveis fósseis (como você pode notar no evento 

) - que tem reduzido a camada de ozônio, aumentando a poluição atmosférica e acelerando o aquecimento global -, é outro fator causador de epidemias e mortes ao redor do planeta.

A degradação dos ecossistemas além de aumentar a probabilidade de transmissão de doenças, também interfere na quantidade e no comportamento de vírus e parasitas existentes na natureza. Apenas no último século as áreas de florestas tropicais, lares de quase dois terços dos organismos vivos do mundo foram reduzidas à metade. Em contraponto, o número de surtos de doenças infecciosas triplicou a cada década desde os anos 1980 e mais de dois terços delas tiveram origem em animais. Uma delas é a própria Covid-19: suas variantes anteriores são conhecidas pelo menos desde a década de 1940, sendo que a maioria delas ocorre em morcegos. Como pode ser observado na linha do tempo CORONAVIRUS OUTBREAK, produzida pela Timelinefy sobre o surto do novo coronavírus, as hipóteses para a contaminação ocorrida na cidade chinesa de Wuhan em 2019 giram em torno do mercado Huanan. Contudo, a origem do vírus que culminou na última grande crise sanitária global permanece uma incógnita. 

De acordo com o brasileiro Arthur Gruber, professor do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), “várias evidências excluem a hipótese de que o Sars-CoV-2 tenha tido uma origem laboratorial. No caso da Sars, sabe-se que o vírus foi transmitido de morcegos para civetas [mamífero asiático da família Viverridae] e desses hospedeiros intermediários para o homem [sic], mas para o Sars-CoV-2 essa questão permanece em aberto.

Em dezembro de 2019, iniciou-se um surto que atingiu cerca de 50 pessoas na cidade de Wuhan, na China. A maioria dos pacientes tinha sido exposta ao mercado Huanan. Esse mercado comercializava frutos do mar, mas também animais silvestres, frequentemente vendidos vivos ou abatidos no local. Contudo, vários pacientes desse surto inicial não tiveram relação epidemiológica com o mercado, abrindo a possibilidade de que outras fontes de infecção pudessem estar envolvidas”.

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Published in 27/07/2021

Updated in 25/09/2021

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