INSETOS DO ESPÍRITO SANTO

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O FÓSSIL DA BACIA DO ARARIPE E A IMPORTÂNCIA DAS

ASAS NO DESENVOLVIMENTO DOS INSETOS

Em 2020, foi publicado na PLOS One (revista científica da Public Library of Science) a descoberta do fóssil de um raro inseto voador, encontrado na Bacia do Araripe, localizada no Ceará. O achado foi feito pelos pesquisadores Arianny P. Storari e Taissa Rodrigues, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Antônio Á. F. Saraiva, da Universidade Regional do Cariri (Urca), e Frederico F. Salles, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). O animal pré-histórico foi o segundo fóssil de adulto da família Oligoneuriidae a ser catalogado no mundo e é datado do Cretáceo Inferior. Naquela época, as porções de terra correspondentes à América do Sul e à África ainda estavam se fragmentando, como pode ser visto no evento 

Essa notícia nos revela o quão longeva tem sido a presença dos insetos na Terra. Como pode ser visto no evento 

, a classe Insecta está presente no planeta antes mesmo do surgimento dos primeiros vertebrados. Para se ter uma ideia, o primeiro fóssil de insetos data do período Devoniano, há aproximadamente 410 milhões de anos. O desenvolvimento e dissipação dessas espécies - a princípio terrestres - está diretamente relacionado com o progresso adaptativo de plantas como as samambaias, assunto abordado no evento 

Ainda sobre a classe Insecta, outra curiosidade é que esses pequenos e “inofensivos” animais compõem, em quantidade, o grupo mais diverso de organismos viventes na Terra: atualmente são cerca de 900 mil espécies já mapeadas no mundo. Se o mundo fosse dominado pelo maior grupo de seres vivos, nós humanos passaríamos despercebidos. Em números, a estimativa média é de que, para cada ser humano, existam 200 milhões de insetos! Mesmo com esse número tão expressivo, estudiosos acreditam que existam ainda mais espécies de insetos que não foram descritas (nomeadas pela Ciência) do que espécies de insetos que foram descobertas e catalogadas. Algumas estimativas são ainda mais ambiciosas: os mais conservadores sugerem que esse número seja de 2 milhões; os mais ousados supõem que o montante chegue a 30 milhões!

Com relação à morfologia externa desses pequenos, há uma divisão basicamente em cabeça, tórax e abdome. É comum também a presença de uma cutícula de quitina, uma camada de cera que promove proteção, suporte para locomoção e prevenção contra a dessecação. Sobre as asas, é sabido que o surgimento delas se deu há mais de 300 milhões de anos e que foi determinante no processo adaptativo desses animais, promovendo uma dispersão mais rápida e facilitando a busca por novos ambientes em casos de condições adversas. 

Isso aconteceu durante o Carbonífero, período também marcado pela formação do supercontinente Pangeia, como pode ser notado no evento

Além disso, o domínio do voo aprimorou a capacidade de procurar parceiros sexuais, sendo uma ferramenta útil para escapar de predadores. Por essas razões, as asas para o voo demandam muita energia física dos insetos, fazendo com que essas complexas estruturas sejam irrigadas por diversas veias. Formadas em pares, essas só se tornam funcionais no estágio adulto. 

Os insetos alados são divididos em dois grupos distintos: os lepidópteros (borboletas) e coleópteros (besouros). Das mais de 4 mil espécies catalogadas no Espírito Santo, 1.440 são coleópteros e 538 são lepidópteros. Hoje, o Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses) conta com peças de ambos os grupos, espécies originárias do Carbonífero.

INSETOS LEPIDÓPTEROS NO MUSES: AS BORBOLETAS E MARIPOSAS

Com mais de 150 mil espécies no mundo (o que corresponde a 16% de todos os insetos viventes), os lepidópteros são a segunda maior ordem de insetos, e o Brasil é o país com a quarta maior diversidade deles, com 5 mil espécies mapeadas. Em contraponto, os representantes desse grupo, tais como as borboletas e mariposas, são os mais ameaçados de extinção no país. 

Como pertencem ao mesmo grupo, borboletas e mariposas possuem algumas semelhanças, principalmente físicas e estéticas. Por isso, para saber diferenciá-las, é necessário fazer o exercício de observá-las mais atentamente. Enquanto as borboletas sempre pousam com as asas fechadas e as abrem ocasionalmente, as mariposas sempre pousam com as asas abertas. Uma das características mais marcantes dos lepidópteros está ligada a essas estruturas para voo. As asas desses insetos são formadas por redes complexas de escamas sobrepostas, aspecto que dá origem ao nome do grupo (“lepis” = escama; “pteron” = asas). 

Os diferentes formatos, cores e arranjos dessas escamas formam diferentes padrões de coloração que, além de encantadoras, podem ter funções essenciais à sobrevivência e interação do grupo com o meio. Isso acontece pois alguns padrões em asas de borboletas funcionam como mecanismo de disfarce e mimetismo (presença de características que se assemelham às características de outro grupo de organismos), confundindo predadores. Um bom exemplo disso são as borboletas corujas do gênero Caligo. Estas são popularmente chamadas assim pelo fato de suas asas serem semelhantes aos olhos de uma coruja, fazendo com que o predador recue e não as ataque.

Outra forma de despistar o predador é por meio da camuflagem, em que os padrões das asas imitam a textura de cascas de árvores, folhas, etc. Além dessa proteção contra predadores, alguns estudos indicam que determinados padrões podem indicar comunicação sexual ou presença de alimento em determinado local.

Além disso, os lepidópteros são agentes polinizadores de grande valor ecológico, fazendo parte de várias cadeias tróficas e sendo bioindicadores de qualidade ambiental e monitoramento de fauna. A polinização ocorre como uma consequência da alimentação desses insetos, que varia entre o néctar das flores e os sais minerais retirados de suor e lágrimas de outros animais, poças d’água, terra úmida, resinas de árvores, até mesmo de fezes e animais em decomposição. Para se alimentarem, borboletas e mariposas utilizam uma estrutura de sucção enrolada, chamada “espirotromba”, que se desenrola na hora da ingestão. Inclusive, algumas borboletas podem se tornar venenosas de acordo com as substâncias que ingerem.

Os lepidópteros realizam metamorfose completa, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto. Durante o período reprodutivo, a quantidade de ovos e sua disposição podem variar de acordo com a espécie.

OS BESOUROS DO MUSES E A IMPORTÂNCIA DESSES INSETOS PARA A AGRICULTURA

Você já ouviu falar dos insetos coleópteros? Você pode até desconhecer esse termo, mas muito provavelmente já viu um deles - afinal, eles representam a maior ordem dentre todos os organismos vivos na Terra. Só as 350 mil espécies coleópteras catalogadas no mundo já correspondem a 40% de todos os insetos viventes, dentre os quais estão os populares besouros. Além da capacidade de voar, os integrantes desse grupo apresentam características anatômicas que permitem a proteção contra micro-organismos e parasitas, e adaptação a ambientes pequenos e estreitos:

  • - Presença de élitros, par de asas rígidas que, apesar de pouco contribuírem ao voo, cobrem e protegem o abdome e as asas posteriores;
  • - Um par de asas posteriores e dobráveis, protegidas pelos élitros. Essas estruturas se adequam de tal forma devido a movimentos de contração e relaxamento de músculos na base das asas;
  • - Uma região bem desenvolvida chamada de protórax, onde ficam as primeiras patas e uma estrutura rígida de proteção tal qual um escudo;
  • - Corpos achatados e presença de genitálias reduzidas e internas em ambos os sexos.

Espécies frequentemente ameaçadas pelo desequilíbrio ambiental proveniente da expansão urbana e agrícola, alguns besouros também são conhecidos por serem pragas agrícolas, infestando plantações. Em contrapartida, outras espécies predadoras são utilizadas no controle ecológico, como as joaninhas. Esta espécie, por exemplo, faz o controle de pulgões, considerados pragas de roseiras e plantações de frutas cítricas, como a laranja e o limão.

OS IMPACTOS CAUSADOS PELOS INSETOS NA AGRICULTURA E NA SAÚDE

No Espírito Santo, são comuns notícias sobre invasões de insetos em casas, proliferação e expansão acelerada de algumas espécies, principalmente em estações mais quentes e chuvosas. Também são recorrentes notícias relacionadas a infestações de insetos na agricultura, visto que alguns deles são pragas responsáveis pela destruição de plantações e safras inteiras. Tais eventos alertam para o desequilíbrio ambiental provocado pela destruição de habitats naturais ou extinção de espécies fundamentais para a manutenção ecológica e da cadeia trófica.

O desenvolvimento da atividade agrícola tem sido uma ameaça ao equilíbrio populacional de insetos. Um dos dilemas que o setor atravessa está no uso deliberado de agrotóxicos e pesticidas voltados às espécies tidas como pragas. Tais recursos são extremamente nocivos, não só às populações que atingem as plantações, mas também aos insetos polinizadores e ao meio ambiente, já que essas substâncias contaminam a vegetação nativa, nascentes e corpos d’água, e o solo. Nesse contexto, o incentivo a sistemas de produção agrícola mais orgânicos e ecológicos como as agroflorestas e pequenos produtores rurais tem sido uma alternativa para manutenção de um ambiente preservado, resguardando a fauna e a flora existentes.

Mas, e no campo da saúde? Você imagina quais impactos podem ser gerados pelos insetos?

Dengue, chikungunya, zika, malária e febre amarela; você provavelmente já ouviu falar dessas doenças, ou mesmo já sofreu por alguma delas. Pois bem, todas essas enfermidades são transmitidas pelos insetos das famílias Culicidae e Diptera, popularmente conhecidos como mosquitos. 

Dados recentes indicam que esses animais matam, em média, 725 mil pessoas anualmente no mundo. No Brasil, dentre as doenças transmitidas pelo inseto, a dengue é a mais letal. De acordo com dados do Ministério da Saúde, só em 2020 foram registrados mais de 970 mil casos da doença no país, com 528 mortes. Em 2019, foram 782 vidas perdidas para a doença. Contudo, o maior pico de óbitos na última década foi em 2015, quando o Brasil chegou ao total de 986 mortes causadas pela dengue.

Quem imaginaria que, mesmo com uma fauna repleta de grandes e ferozes animais, uma das maiores ameaças para os seres humanos seria um inseto que mede em média 7 milímetros de comprimento?

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Published in 27/07/2021

Updated in 25/09/2021

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