FORMAÇÃO DA PANGEIA

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E SE OS CONTINENTES ESTIVERAM UNIDOS?

Imagina só você ser um paleontólogo que está estudando a vida na Terra a partir do continente africano e, de repente, encontrar fósseis semelhantes a outros mapeados do outro lado do Oceano Atlântico? Foi mais ou menos assim que cientistas descobriram que, em algum momento da história do planeta, os continentes estiveram juntos no passado. Atualmente algumas evidências desse período podem ser vistas no Museu de História Natural do Sul do Espírito Santo (MUSES), como o mesossauro, réptil de pequeno porte encontrado nos litorais do Brasil e da África do Sul. Mas para contarmos essa história vamos retornar até 1915, época em que o geofísico alemão Alfred Wegener (1880-1930) publicou a teoria que redefiniu a forma como enxergamos o mundo, os seus continentes e os oceanos.

O MUNDO EM QUEBRA-CABEÇAS: 

A DERIVA CONTINENTAL E O SURGIMENTO DOS CONTINENTES

O ano é 1915, o mundo está imerso na Primeira Guerra Mundial e o Brasil é uma recém República que tinha acabado de abolir a Escravidão. Em 1915 é publicada pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955) a Teoria da Relatividade Geral. Esta, juntamente com a Teoria da Relatividade Restrita, formará a Teoria da Relatividade, que compreenderá o espaço-tempo como entidade geométrica unificada. Nesse mesmo ano, uma outra teoria científica é publicada no livro A Origem dos Continentes e Oceanos, do geofísico Alfred Wegener: a Deriva Continental.

Para termos uma ideia do que se trata essa teoria, façamos o seguinte: desenhe, copie ou imprima um mapa mundi de um livro ou de algum site na internet. Dele, recorte apenas os continentes e tente encaixá-los, como peças de um quebra-cabeças. Experimente encaixar a América do Sul ao continente africano, a partir dos lados que têm contato com o oceano Atlântico, por exemplo. Foi por meio de um exercício parecido com esse que Wegener, no começo do século XX, indicou a possibilidade dos continentes terem estado unidos em algum ponto da história geológica da Terra. 

A Teoria da Deriva Continental diz que os continentes já foram um supercontinente conhecido como Pangeia. 

Lembremos que a Terra é formada pela biosfera, por sua vez composta pela hidrosfera (rios, mares e oceanos), atmosfera (ar) e litosfera (crosta terrestre). A litosfera é dividida em placas tectônicas, espalhadas pelo globo e se deslocando a todo o tempo sob o manto terrestre. Ao todo, já foram mapeadas um total de 70 placas, sendo que doze delas são antigas, três localizam-se no interior de cadeias de montanhas, quarenta são placas menores e outras quinze são conhecidas como placas principais: Africana, Antártida, Arábica, Australiana, Caraíbas, Cocos, Euroasiática, Filipinas, Indiana, Juan de Fuca, Nazca, Norte-americana, Pacífico, Scotia e Sul-americana. É o movimento dessas placas que provoca terremotos e maremotos e, em conjunto com o ar polar, também desencadeia o afastamento dos continentes entre si. Foi dessa Deriva Continental que os supercontinentes, como a Pangeia, se fragmentaram em várias partes.

PANGEIA E A SEPARAÇÃO GEOLÓGICA DO BRASIL E DA ÁFRICA

Um Brasil sem litoral e praias pode parecer algo inimaginável hoje, mas já foi uma realidade cerca de 225 milhões de anos atrás. Naquele tempo, a costa brasileira não existia, pois era ligada ao continente africano; assim como a América do Norte estava unida à Europa e à Ásia. Essa enorme massa continental é conhecida como Pangeia e se manteve unida até o último período do Paleozoico (entre 300 a 250 milhões de anos atrás). Apesar de ser bastante conhecido, esse supercontinente não foi o primeiro da história, como também podemos observar em 

A Pangeia possuía características únicas: rodeado pelo oceano Pantalassa por todas as margens e de área terrestre imensa, sua dimensão total era equivalente à [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS] Brasis juntos; além disso, apresentava condições climáticas bem delineadas, sendo úmido nas bordas e extremamente seco na região central, com a ocorrência de verdadeiros desertos. 

Entretanto, com a Deriva Continental, no decorrer de milhões de anos a Pangeia foi se fragmentando em duas partes: a Laurásia, parte norte composta pelos continentes que hoje conhecemos como América do Norte, Europa, Ásia do Norte e Japão; e a porção sul, denominada Gondwana, formada pela Antártida, América do Sul, África, Ásia Meridional e Oceania. Desse afastamento também foram surgindo os oceanos, como o Atlântico Sul, que atualmente separa a América do Sul e a África. 

Mas quais são as provas que revelam essa conexão antiga entre os continentes?  

MESOSSAUROS: EVIDÊNCIAS PRÉ-HISTÓRICAS DO PLANETA DE UM CONTINENTE SÓ

Você sabia que aquele aplicativo de celular que utilizamos para nos localizar nos lugares é o mesmo responsável por detectar os movimentos dos continentes? Hoje o sistema de posicionamento global, popularmente conhecido como GPS, é um dos equipamentos mais usados para observar e medir os movimentos das placas tectônicas. Criado em plena Segunda Guerra Mundial pela atriz de cinema e inventora austríaca-estadunidense Hedy Lamarr (1914-2000) em 1940, a invenção baseada na emissão de frequências específicas de longo alcance foi posteriormente utilizada em navios e aviões pelo exército dos EUA para orientar torpedos à força inimiga. Décadas depois, esse sistema foi a base para o surgimento do wi-fi e do bluetooth! Entretanto, a invenção de Lamarr veio algum tempo após a Teoria da Deriva Continental. Para tentar comprová-la em sua época, Wegener precisou então embarcar em diversas expedições pelo planeta.

Hedy Lamarr, inventora do GPS. Fonte da imagem: Wikipedia 

Após viagens em diversas regiões do mundo, Alfred Wegener fez considerações para fortalecer a sua tese, tais como: o perfeito encaixe da África com a América do Sul; a glaciação que ocorreu na porção sul da Pangeia; rochas de diferentes continentes com a mesma estrutura e origem; e a ocorrência de fósseis da mesma espécie em continentes distintos. Mas apesar de evidências circunstanciais, a teoria apontada pelo geofísico teve pouca credibilidade no meio científico. Apenas nos anos 1950, vinte anos após a morte do cientista, que pesquisas comprovaram os mecanismos que causam a movimentação dos continentes. 

Uma das provas que agrega credibilidade à Teoria da Deriva Continental está relacionada a estudos paleontológicos de fósseis de uma mesma espécie encontrados em diversos continentes. Concluiu-se posteriormente que, para alguns desses fósseis, seria extremamente difícil a travessia pelo oceano entre um continente e outro. E alguns dos fósseis utilizados como fatores de validação foram justamente os do Cynognathus (veja 

) e do mesossauro.

Possível forma de um Mesossauro. Fonte da imagem: Wikipedia 

Os mesossauros (Mesosaurus tenuidens) viveram sob a Terra há cerca de 280 milhões de anos. Répteis de pequeno porte, seus fósseis são encontrados em abundância tanto na Formação Irati, presente na região que hoje corresponde à Bacia do Paraná (Sul e Sudeste do Brasil), quanto na Formação Whitehill, localizada na África do Sul. 

Diferente dos anfíbios, que só se reproduzem na água, os mesossauros foram uma das primeiras espécies a se reproduzir independente de um ambiente aquático, devido à evolução do âmnio, uma membrana bem frágil que protege o embrião e facilita a adaptação em meios terrestres. É comum em aves e mamíferos, podendo ser vista num simples ovo de galinha.

Nadadores habilidosos, os mesossauros tinham hábitos aquáticos e foram os primeiros vertebrados terrestres a voltarem a viver na água. Suas adaptações corporais eram reflexo disso: estrutura alongada e fina; cauda longa e comprida nas laterais para impulso nos movimentos; pés espalmados e membranas interdigitais; entre outras particularidades. Pequenos crustáceos marinhos eram o principal alimento desse réptil pré-histórico, que tinha grandes e numerosos dentes que filtravam a água para capturar suas presas.

A família Mesosauridae possui três espécies mapeadas: Mesosaurus tenuidens, Stereosternum tumidum, e Brazilosaurus sanpauloensis. Este último é conhecido por ocorrer apenas em território brasileiro e foi descrito pela primeira vez em 1966 pelos geólogos Tokio Shikama e Hiroshi Ozaki, em São Paulo. Dessas três espécies, o Mesosaurus tenuidens é a espécie que faz parte do acervo histórico-científico do MUSES

O MESOSSAURO DO MUSES 

A réplica do fóssil de um Mesosaurus tenuidens compõe o acervo histórico-científico do MUSES e foi doada à instituição pelo paleontólogo Rodrigo Figueiredo (que atualmente é Diretor do museu). Produzida pela Oficina de Réplicas da Universidade de São Paulo (USP), a peça é baseada no exemplar original de um mesossauro jovem, com pouco mais de 30cm de comprimento e aproximadamente 250 milhões de anos. Tal exemplar foi descoberto na região da Bacia de Irati, localizada no município de São Mateus do Sul, no Paraná, e descrito em 1865 pelo zoólogo e paleontólogo francês Paul Gervais (1816-1879).

Réplica de fóssil de Mesossauro exposto no Muses. 

Apesar de extintos há cerca de 283 milhões de anos, os mesossauros constituem evidências de um grande evento histórico-geológico que foi a Pangeia, sua fragmentação e o surgimento dos oceanos, como você também pode notar em 

São registros que apontam mudanças e transformações que ocorreram no passado e que ainda ocorrem no planeta - afinal de contas, os continentes continuam a se deslocar cerca de 5cm ao ano.

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Published in 16/06/2021

Updated in 27/09/2021

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