INÍCIO DA ABERTURA DO OCEANO ATLÂNTICO - CONEXÃO BRASIL E ÁFRICA

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O BRASIL COMEÇA PELO ESPÍRITO SANTO: 

O ARQUIPÉLAGO DE TRINDADE E MARTIM VAZ

Que o Espírito Santo é agraciado com um litoral recheado de praias lindas nós já sabemos, certo? Mas você sabia que, a 1.160km da costa capixaba, existe um arquipélago pertencente ao município de Vitória? Denominado Trindade e Martim Vaz, este conjunto de ilhas é também o mais distante da costa brasileira! A fauna e flora encontradas nessas ilhas vulcânicas são únicas e mostram a importância da preservação e conservação dessas áreas ambientais.

Ilha de Trindade, localizada a 1.160km da costa capixaba. Fonte da imagem: marsemfim.com.br 

Em 1502, uma expedição portuguesa capitaneada pelo navegador Estevão da Gama (c. 1470) a caminho das Índias encontrou essas ilhas tão isoladas da porção continental sul-americana. Gama logo quis tomar posse da descoberta e diversas disputas pelo território aconteceram entre brasileiros, portugueses e ingleses, até que, em meados de 1800, a Ilha da Trindade foi finalmente declarada território brasileiro e patrimônio capixaba. Ou seja: o início do território do Brasil começa pelo Espírito Santo!

A Ilha de Trindade é relativamente nova em comparação a outras ilhas de origem vulcânica brasileiras, datando cerca de 3 milhões de anos. Como também é apresentado em 

, a ruptura do supercontinente Gondwana ocorreu há aproximadamente 65 milhões de anos em duas placas litosféricas: a da América do Sul e a da África. Na região onde antes essas duas placas divergiam, elevaram-se gradualmente bancos de sedimentos marinhos, com consequente intrusão de magma nas zonas de fratura dessas rochas, gerando, assim, ilhas vulcânicas tais como as do arquipélago de Trindade e Martim Vaz. Alguns pontos de fratura liberavam mais magma que outros e isso é evidente quando vemos a topografia do arquipélago. Supõe-se que o vulcanismo que gerou a Ilha de Trindade foi ativo até o início do Holoceno (época geológica atual do período Quaternário da era Cenozoica), há aproximadamente 5.000 anos. Com o passar de milhares de anos, o vulcanismo foi extinto, dando lugar às cadeias de rochas que possuem 600m acima do nível do mar.

Podemos ver que eventos como esse foram recorrentes após a separação dos continentes devido às movimentações das placas tectônicas. Mas para entendermos melhor essas mudanças, precisamos retornar no tempo, mais exatamente para o período entre 135 e 130 milhões de anos, época em que surgiu o oceano Atlântico.

COMO SE FORMARAM OS OCEANOS?

Ah, o mar… Fonte da vida e de descobertas incríveis sobre o planeta! Um ambiente assustador, como vimos em filmes como Náufrago (2000), Titanic (1997) e Poseidon (2006), mas ao mesmo tempo que ocupa 71% da superfície terrestre. Ou aquele mar de quando vamos à praia e vislumbramos os navios sumirem no horizonte, percebendo então que a Terra não é plana. Ou aquela imensidão que nos separa da África. Mas você sabia que o oceano Atlântico não era uma realidade até milhares de anos atrás? Nós, sul-americanos, já estivemos mais perto da África do que imaginamos. Para você, como surgiu esse vasto mar? 

Assim como pode ser observado em FORMAÇÃO DA PANGEIA, a distribuição dos continentes como conhecemos hoje era bem diferente há cerca de 225 milhões de anos: todos eles formavam uma só porção de terra, chamada Pangeia. Quando esse supercontinente se fragmentou, iniciou-se também a abertura de estruturas por todo o planeta chamadas dorsais meso-oceânicas. Estas falhas geológicas resultantes da separação dos continentes acontecem quando o magma do interior da Terra flui para regiões externas ao manto, tornando a crosta terrestre menos espessa e formando outras rochas, como o basalto. É a partir desses eventos que iniciamos nossa viagem pelo oceano Atlântico.

A Teoria da Deriva Continental diz que os continentes já foram um supercontinente conhecido como Pangeia. 

A DERIVA CONTINENTAL E A ABERTURA DO OCEANO ATLÂNTICO

Estima-se que por volta de 225 milhões de anos a Pangeia começou a se fragmentar, num fenômeno que ficou conhecido por Deriva Continental. Esse supercontinente se dividiu em duas massas continentais menores: a Laurásia, que correspondia a América do Norte, Europa e Ásia; e a Gondwana, formada pela América do Sul, África, Índia, Oceania e Antártica. Quando a Laurásia começou a se separar, formando a América do Norte e a Eurásia, surgiu a Dorsal Mesoatlântica (DMA), que originou o oceano Atlântico. Essa dorsal foi descoberta na década de 1950, pelos geólogos Marie Tharp (1920-2006) e Bruce C. Heezen (1924-1977). Esse mapeamento da topografia do Atlântico por meio de sonares serviu como um complemento à Teoria da Deriva Continental de Wegener (como também pode ser visto em 

), confirmando a existência de um rifte continental que, provavelmente, deu origem a esse oceano.

A Teoria da Deriva Continental diz que o supercontinente Pangeia se dividiu e deu origem a Laurásia e a Gondwana. Fonte da imagem: infoescola.com 

Contudo, vale sempre ressaltar que todas essas descobertas são frutos de mudanças na Terra que levaram milhões e milhões de anos para ocorrerem. Mas se faz tanto tempo assim, como é possível afirmarmos com certeza que foi desse jeito que tudo isso aconteceu?

A PALEONTOLOGIA NA GEOLOGIA DOS CONTINENTES E NO ESTUDO DA VIDA NO PASSADO

Além da Geologia, a Paleontologia é outra ciência responsável por estudar a vida em tempos passados, por meio de evidências que podem ser fósseis, icnofósseis e sedimentos rochosos. Com pesquisas e análises desses objetos, cientistas de todo o mundo conseguem, até hoje, estabelecer teorias sobre o planeta Terra em tempos anteriores ao surgimento dos primeiros humanos. Dessa forma, é possível identificarmos quais animais existiam, quando apareceram espécies que existem hoje, quais e quando algumas espécies foram extintas e até como outras desapareceram. Um exemplo bastante popular de pesquisa paleontológica é o estudo relacionado a Grande Extinção do Cretáceo-Paleogeno, provocada pelo impacto do Meteorito de Chicxulub com a Terra, há 66 milhões de anos. Você pode se aprofundar nesse assunto em 

Outros estudos paleontológicos semelhantes estão relacionados à presença de fósseis de uma mesma espécie encontrados em continentes diferentes, como ocorrido com o mesossauro (veja mais em FORMAÇÃO DA PANGEIA) e o Cynognathus, um réptil terrestre pré-histórico já extinto. Fósseis desse réptil foram encontrados ao longo de toda a extensão de continentes que formavam a Gondwana, como a América do Sul e a África.

Possível estrutura de um Cynognathus. Fonte da imagem: Wikipedia     

Hoje, o Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (MUSES) possui alguns outros fósseis de animais pré-históricos, que também serviram como evidências de que a Gondwana de fato existiu. Uma dessas peças é do popular pterossauro e o outro fóssil é um coprólito de peixe. Ambos foram coletados da Bacia do Araripe, uma das mais importantes do mundo e que está localizada no Ceará.

O PTEROSSAURO DO MUSES

Você sabia que um dos maiores fósseis de pterossauro já encontrados no Hemisfério Sul foi localizado no Brasil? Esse espécime de aproximadamente 110 milhões de anos foi descoberto em 2013, na Chapada do Araripe, entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.

Um outro fóssil de pterossauro, também descoberto em 2013, está atualmente exposto no MUSES e reforça a importância que a espécie tem para a fauna pré-histórica brasileira: é uma réplica em tamanho real do crânio de um Pterossauro que viveu no Brasil há aproximadamente 110 milhões de anos, adquirida junto ao Museu Nacional (RJ). A peça mede 80cm de comprimento e 20cm de altura, possuindo uma envergadura alada de, mais ou menos, 4m. O fóssil original foi encontrado no Nordeste do país pela bióloga, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Taissa Rodrigues. Filiada à Academia Brasileira de Ciências (ABC), Rodrigues também foi uma das responsáveis pela grande descoberta de 215 ovos de pterossauro no deserto de Gobi, na China, em 2017.

Fóssil de Pterossauro exposto no Muses. O fóssil foi descoberto em 2013 pela professora e pesquisadora Taissa Rodrigues. 

Este réptil voador teve origem há mais ou menos 120 milhões de anos. Sabe-se que, no percurso evolutivo, sua estrutura física variou muito: houveram períodos em que esses animais possuíam caudas longas e mandíbulas cheias de dentes, e outros em que ambas as partes diminuíram de tamanho. Além disso, constatou-se que sua asa era composta por uma membrana corporal conectada aos dedos da pata anterior.

Também intitulado de Anhanguera, o pterossauro tinha uma envergadura (distância da ponta de uma asa até a outra) que chegava aos 4,6m e cristas arredondadas na ponta das suas mandíbulas, que protegiam seus dentes. Esses animais contavam com grandes bicos, que continham fortes dentes nas pontas. Estas particularidades são indicativos de um comportamento carnívoro, com uma dieta baseada em peixes e outros seres que pudessem ser facilmente pescados.

Modelo de um Pterossauro em tamanho real. Fonte da imagem: Robert Clark/National Geographic Brasil 

O achado de uma jazida com inúmeros pterossauros jovens indicou que esta espécie procriava em colônias, tal qual as aves marinhas atuais. Uma outra descoberta apontou que pterossauros eram presas do espinossauro, quando um dente deste último foi encontrado cravado numa vértebra do réptil alado. Entretanto nenhuma dessas descobertas foi capaz de detectar como se deu a extinção dessa espécie. Estima-se que os pterossauros foram extintos há milhões de anos. Pesquisas identificaram, por meio do estudo do extrato e sedimentos rochosos da época, uma camada rica em irídio, elemento químico pouco abundante na Terra, mas bastante associado a corpos extraterrestres e fenômenos vulcânicos. Essa evidência fortalece a teoria da Extinção Cretáceo-Paleogeno, há mais ou menos 65,5 milhões de anos.

O Brasil é, atualmente, um dos países onde mais se encontram fósseis de pterossauros no mundo, juntamente com a Alemanha e a China. A existência de cadeias montanhosas no Espírito Santo que datam do Cretáceo é um indicativo de que o nosso estado tenha sido um habitat para a espécie.

O COPRÓLITO DE PEIXE DO MUSES: O RASTRO DO RASTRO

O MUSES também possui em seu acervo outro registro fóssil, que data do mesmo período que o pterossauro. Trata-se de um coprólito de peixe, doado à instituição pelo Laboratório de Geologia do Campus de Alegre (UFES) no ano de inauguração do Museu, em 2010. Diferente dos fósseis que conhecemos, essa peça é um icnofóssil, ou seja, é uma peça fossilizada que representa o rastro da existência de alguns seres, como coprólitos, pegadas e/ou túneis. A peça presente no MUSES é um registro de fezes fossilizadas de um peixe que viveu há milhões de anos.

Coprólito de Peixe exposto no Muses. 

Na ciência e no estudo da história natural, toda evidência do passado que é encontrada constitui registro de informações. E é por isso que os coprólitos são muito importantes para o estudo da paleofauna. Como aponta o paleontólogo e atual Diretor do MUSES Rodrigo Figueiredo, “os coprólitos são interessantes porque são icnofósseis – registros da atividade biológica de um organismo –, mas que não são parte do organismo em si.” É por meio desses resíduos fossilizados que conseguimos identificar com mais precisão os hábitos alimentares de espécies animais já extintas. Neles descobrimos, por exemplo, os restos de plantas e animais que eram digeridos por uma determinada espécie, as especificidades e preferências de sua dieta, além de grupos dos quais cada uma delas se alimentava.

Desse modo, por mais que pareça não haver muita razão para o estudo de fezes fossilizadas, a realidade é totalmente contrária, já que o coprólito de um organismo, para a paleontologia, é mais um material que pode ajudar muito nas pesquisas sobre a evolução da vida no planeta. Um exemplo que ajuda na compreensão é pensar que assim como a poluição funciona como evidência do que nós, seres humanos, temos deixado na Terra, os coprólitos são provas do que esses animais deixaram sobre sua vida aqui.

Uma das pioneiras no estudo desses registros foi a inglesa paleontóloga e colecionadora de fósseis Mary Anning (1799-1847). Mundialmente conhecida por ter achado, aos 12 anos, os primeiros fósseis de um ictiossauro (répteis marinhos do período Jurássico), as descobertas de Anning provocaram uma série de transformações na geologia e na forma como era entendida, até então, a vida pré-histórica. Seus achados pavimentaram o caminho para a compreensão dos coprólitos (na época chamados de “pedras de bezoar”) como fezes fossilizadas, mas não apenas. Como também é apresentado em 

, eles também possibilitaram o entendimento de grupos de animais pré-históricos que deram origem aos atuais moluscos marinhos e gastrópodes, tais como as lesmas e os caracóis.

Mary Anning, paleontóloga e colecionadora de fósseis. Fonte da imagem: Wikipedia 

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Published in 16/06/2021

Updated in 27/09/2021

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