URBANIZAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

1950View on timeline

DO CAFÉ À METALURGIA:

OS REFLEXOS DA URBANIZAÇÃO CAPIXABA NO SÉCULO XX

“[...] E a cidade se apresenta

Centro das ambições

Para mendigos ou ricos

E outras armações

Coletivos, automóveis,

Motos e metrôs

Trabalhadores, patrões,

Policiais, camelôs

A cidade não pára

A cidade só cresce

O de cima sobe

E o de baixo desce

[...] A cidade até que não está tão mal

E a situação sempre mais ou menos

Sempre uns com mais e outros com menos…”

Chico Science & Nação Zumbi

Música “A Cidade”, do álbum Da Lama ao Caos (1994)

Prédios altos, saneamento básico, intensa circulação de pessoas e carros em largas e longas vias, grande concentração de lojas e empreendimentos comerciais, parques e áreas de lazer planejadas: que tipo de cidade vem à sua mente quando imagina tal cenário? Esse pode ser considerado o lugar onde você vive ou viveu? Existem outras partes da cidade que são diferentes do lugar onde você mora?

Em “A Cidade”, canção da banda pernambucana Chico Science & Nação Zumbi (1991-), a imagem de um cenário urbano é construída a partir das pessoas e máquinas que o ocupam, suas respectivas funções e atividades. Apesar da modernização urbana, a composição desenha um local marcado por desigualdades e assimetrias sociais. Analisando por tal prisma, como você acredita que se deu o processo de urbanização no Espírito Santo?

É importante ter em mente que o processo de urbanização como um todo gera muitas mudanças - positivas e negativas. Um exemplo disso é que, antigamente, a Região Metropolitana da Grande Vitória (formada pelos municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória) era um ecossistema predominantemente aquático. Ainda que historicamente o Espírito Santo tenha sido modernizado e se desenvolvido num contexto de proteção ambiental, as transformações urbanas foram e têm sido significativas. 

Como você pode observar no evento 

, a expansão e consolidação da produção cafeeira no Espírito Santo desde o século XIX foi responsável pela criação e modernização de vias terrestres e canais fluviais, além de intensificar os fluxos de importação e exportação nos portos. Contudo, em meados do século XX, tal setor passou por uma crise com o fechamento de lavouras improdutivas pelo Governo Federal. Uma de suas consequências foi, então, o aumento do êxodo rural entre as décadas de 1950 e 1960, que impulsionou o crescimento e a urbanização das cidades da Grande Vitória. Das cerca de 73.470 pessoas que deixaram o interior (inclusive migradas de outros estados do Brasil), apenas 13.076 delas conseguiram se reinserir em outras atividades agrícolas. Alguns estudos acerca desse período histórico estimam que a parcela de desempregados tenha chegado a 240 mil pessoas!

O incentivo à industrialização capixaba com recursos fiscais ocorreu principalmente a partir dos anos 1970, durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). A implantação dos denominados Grandes Projetos foi uma das medidas para lidar com o aumento populacional nas cidades. Tais iniciativas eram voltadas para os setores portuário e siderúrgico, visavam o comércio externo e a mudança do perfil historicamente agrário da economia capixaba. Nessa época, houve o incremento da construção civil, que era um dos setores que mais geraram postos de trabalho nos canteiros de obra. Era comum que a mão de obra do setor fosse composta por migrantes que chegavam às áreas urbanas em busca de melhores condições de vida.

Em 1950, a maior parcela da população capixaba vivia nos campos, enquanto apenas 20% residia em áreas urbanas. No final da década de 1960, o gráfico populacional nas cidades deu um salto para 45%, mesmo que a base econômica do Espírito Santo ainda fosse firmada na agricultura. Só a partir dos anos 1970 é que a população urbana superou a rural, chegando aos 67% do total em 1980. 

Em acréscimo ao aumento populacional e à modernização, a presença humana também agravou os impactos ambientais iniciados muitos séculos antes, desde a invasão dos europeus ao Brasil, como pode ser notado no evento 

Nesse processo de urbanização, começaram as ocupações dos habitats naturais de espécies vegetais e animais, tais como siris, caranguejos, jacarés-do-papo-amarelo e acaiacá, árvore típica da Mata Atlântica que você pode conhecer no evento 

Veremos a seguir que algumas dessas espécies fazem parte do acervo histórico-científico do Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses), vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A URBANIZAÇÃO NAS REGIÕES LITORÂNEAS CAPIXABAS E AS AMEAÇAS A MEXILHÕES, SURURUS, SIRIS E CARANGUEJOS

O projeto de pesquisa Decápodos estuarinos como possíveis bioindicadores de poluição de metais pesados no estuário do rio Benevente da região Sul do ES foi uma das ações que os alunos de Ciências Biológicas do Campus de Alegre da Ufes já realizaram para estudar as praias do Sul capixaba e a fauna de mexilhões, cracas, algas e sururus que compõem os costões rochosos desses ecossistemas. Essas pesquisas analisaram, principalmente, a fauna acompanhante de mexilhão e sururu em dois locais do litoral sul, que você também pode conferir no evento 

, Ubu e Iriri. Os trabalhos tiveram o objetivo de verificar as diferenças dos organismos em ambas as regiões, avaliando também os impactos da ação humana sobre o meio ambiente em que vivem. Após análises de substâncias presentes nesses animais, constatou-se que a região mais afetada por uma maior quantidade de metais era Ubu. É lá que está situado o Complexo de Ubu, pertencente à mineradora Samarco. 

A Samarco Mineração Sociedade Anônima é uma empresa brasileira fundada em 1977 e que iniciou suas atividades em solo capixaba em 1997, com a criação de duas usinas na região Sul: uma hidrelétrica no município de Muniz Freire e outra de pelotização em Ubu - Anchieta. Esta última conta com um terminal marítimo próprio para exportar a produção, além de possuir um quebra-mar de 313m de comprimento para proteção do píer que pode receber navios de até 160 mil toneladas. Além disso, seu pátio de estocagem tem capacidade para receber 1,5 milhão de toneladas de pelotas e concentrado. 

Toda essa estrutura industrial ainda impacta diretamente no ambiente no qual a empresa está inserida. Além das usinas no Espírito Santo, a empresa também possui unidades em cidades do interior de Minas Gerais. Em novembro de 2015, no município de Mariana, a barragem de rejeitos de mineração de uma delas se rompeu, culminando no que se tornou o maior desastre ambiental já registrado na história brasileira até então. Dentre mortes e danos à cidade (até hoje submersa em lama), seus impactos foram sentidos por todas as comunidades ribeirinhas, fauna e flora viventes na região do Rio Doce. Esta bacia hidrográfica nasce em território mineiro e deságua no litoral norte capixaba, atravessando 230 municípios. Segundo especialistas, os rejeitos da tragédia poderão impactar o mar por pelo menos mais cem anos.

Assim como os mexilhões que habitam a região de Ubu, os siris e caranguejos que residem em manguezais também sofrem com contaminações oriundas de ações humanas, como também pode ser observado em 

Entretanto, no caso dessas espécies, o principal fator complicador é a caça e a coleta desordenada. A urbanização das grandes cidades contribuiu muito na perda de seu habitat, levando consequentemente a uma redução populacional, agravando o desequilíbrio na cadeia alimentar. O caranguejo-uçá e o caranguejo guaiamu-cardisoma guanhumi são duas das espécies mais exploradas e ameaçadas de extinção que compõem a biodiversidade capixaba.

Siris e caranguejos são crustáceos - artrópodes invertebrados que possuem patas articuladas e carapaça externa muito dura e resistente. Comuns tanto em ambientes aquáticos quanto terrestres, os primeiros exemplares desses animais surgiram na Terra há cerca de 180 milhões de anos, no período Jurássico. Algumas evidências fósseis encontradas datam da época em que o planeta tinha apenas dois continentes: Laurásia e Gondwana (que você pode conhecer nos eventos 

Mas você saberia diferenciar caranguejos e siris?

Atualmente, a ciência já catalogou 6.793 espécies de caranguejos e siris. O caranguejo é um grupo de crustáceos que engloba espécies diversas, dentre os quais fazem parte os siris. A grande diferença é que estes últimos apresentam as últimas patas mais achatadas, tal qual remos para nado. Esses animais geralmente vivem no fundo do mar, em áreas litorâneas de todo o mundo (escondidas em frestas entre as rochas) e manguezais (enterrados em buracos feitos na lama ou próximos às árvores). O Macrocheira kaempferi (caranguejo-gigante-japonês ou caranguejo-aranha-gigante) é a maior espécie de artrópode existente, já que pode medir até 3,8m com as patas esticadas e pesar até 19kg!

Por serem detritívoros (que se alimentam de restos de plantas ou animais mortos), os caranguejos e siris são partes fundamentais da cadeia trófica dos locais que habitam. Ademais, eles também servem de alimento para outras espécies de vertebrados (como alguns peixes) e invertebrados (como o polvo). No Muses, você pode conhecer peças correspondentes a espécies encontradas no Sul do Espírito Santo, tais como Callinectes ornatus, Callinectes danae, Ucides cordatus (a maior delas), Hepatus pudibundus, Persephona punctata e Persephona lichtensteinii. Todas elas foram coletadas para análises ligadas ao projeto de pesquisa universitário mencionado no início deste texto. 

Outros animais ameaçados pela expansão das áreas urbanas no Espírito Santo também compõem a coleção de vertebrados do Muses, a exemplo dos teiús e dos jacarés-de-papo-amarelo. Ambos são originários de regiões de Mata Atlântica nativa, importante bioma brasileiro fortemente reduzido desde o início da colonização portuguesa, como é observado no evento 

SERIAM OS DINOSSAUROS, DE FATO, “LAGARTOS”?:

O TEIÚ DO MUSES E O RÉPTIL LENDÁRIO DO EGITO ANTIGO

Como pode ser observado no evento 

, o termo “dinossauro” (cunhado pela primeira vez em 1842) possui origem no latim e significa “lagarto” (sauro) “terrível” (dino). Mas você sabia que, apesar disso, esses répteis pré-históricos não eram taxonomicamente próximos dos lagartos de verdade?

Atualmente, a coleção do Muses conta com o exemplar taxidermizado do teiú, uma espécie de lagarto que chegou à instituição por meio de [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS]. Muito populares no Brasil pelos nomes de tiú, teju açu, lagartiu, teju, tegu, jacuraru, jacuaru, jacuruaru, jacruaru e caruaru, os teiús podem ser encontrados em regiões da Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal. Esse é um réptil da família Teiidae, com língua rosa e bífida (partida em duas metades), e que pode chegar a medir 2m de comprimento, incluindo a cauda. Por essa razão, é considerado um dos maiores lagartos do continente americano! 

Algumas pesquisas paleontológicas recentes indicam que, ao invés dos lagartos, as aves viventes nos dias de hoje são as descendentes mais imediatas de espécies de dinossauros tais como pterossauros, triceratops, velociraptors e tiranossauros. Apesar disso, os sauros, como os teiús e lagartos no geral, também apresentam semelhanças físicas com outros répteis temíveis do reino animal: os jacarés e crocodilos. Você sabia que, na história adaptativa dos dinossauros, esses animais - que pertencem à ordem Crocodylia -, são os parentes mais próximos dos antigos dinossauros depois das aves?

Os jacarés e crocodilos como os conhecemos hoje são muito recentes. Ainda assim, supõe-se que sua origem data de cerca de 250 milhões de anos atrás, logo após a Extinção Permo-Triássica, que você pode conhecer no evento 

, e início da fragmentação do supercontinente Pangeia, em destaque em

É importante destacar que ambos animais são da mesma ordem e classe (Reptilia e Crocodylia, respectivamente), mesmo que pertençam a famílias diferentes. Apesar das semelhanças, tanto crocodilos quanto jacarés são anatomicamente distintos, como no formato do crânio e do focinho, além da disposição dos dentes (mais entrelaçados no caso de jacarés). Os jacarés também não possuem glândulas excretoras de sal, portanto são mais adaptados a ambientes fluviais (próximos à água doce). Já os crocodilos têm mecanismos físicos internos que os ajudam a tolerar a água salgada, a ponto de conseguirem filtrar o sal, tornando-a ingerível. Um ponto de destaque é que os crocodilos são instintivamente mais agressivos que os jacarés. Além disso, a língua de ambas as espécies é revestida com queratina, uma substância que impede a desidratação quando estão imersos na água. A existência de uma válvula na garganta desses animais também é um recurso adaptativo muito útil durante a caça, pois permite que jacarés e crocodilos fiquem com a boca aberta dentro d’água por um longo período aguardando presas desatentas.

Tais aspectos físicos e comportamentais favoreceram a criação de diversas crenças e lendas acerca dos jacarés e crocodilos, que atravessaram os séculos. Uma das mais famosas está relacionada a Sobeque, entidade meio humanoide meio crocodilo que era venerada como um poderoso deus no Egito Antigo. Você já ouviu falar dele?

Historicamente, é sabido que a religião dos egípcios antigos era politeísta, ou seja, era composta por vários deuses. As histórias e ritos passados de geração em geração revelavam como tudo no Universo havia sido criado por essas divindades. Frequentemente representados como seres antropomórficos (mesclando formas humanoides e animais), a eles eram atribuídos características comportamentais de acordo com fenômenos naturais ou a animais da região do Nilo (bacia hidrográfica que cruza a Uganda até o Egito, desaguando no mar Mediterrâneo). Uma dessas divindades, conhecida como Sobeque, O Raivoso, possuía um corpo meio homem meio crocodilo e era cultuado a mais de 4 mil anos atrás.

As lendas relatam que o suor de Sobeque foi o responsável por criar todo o Rio Nilo. Por isso, associam essa divindade à fertilidade, já que na Antiguidade os ciclos desse rio eram base para fertilização de terras agrícolas. De personalidade instintivamente voraz, Sobeque era considerado pelos egípcios um deus benevolente, cuja proteção afastaria os crocodilos que rondavam o Nilo. Essa crença foi baseada num réptil presente na região, o crocodilo-do-nilo (Crocodylus niloticus). Esses animais atingem quase 5m de comprimento, além de se locomoverem a 14km/h quando em terra e a 30km/h na água. Carnívoros, sua alimentação é composta por espécies de grande porte, atacados e capturados. A presa morre de forma imediata, mas é submersa para que sua carne amoleça.

Os templos de culto ao deus Sobeque eram os de Fayum e Kom-Ombo, cujas piscinas, segundo relatos, eram criadouros de crocodilos-do-nilo domesticados e dóceis. Por essa razão, esses eram reverenciados com enfeites e adoração, supondo que eram as encarnações de deus Sobeque na Terra. Outro aspecto cultural curioso era a mumificação desses répteis, sepultados junto com os faraós. Atualmente, algumas dessas peças mumificadas podem ser vistas no Museu do Templo de Kom-Ombo (Egito).

Alguns parentes do deus Sobeque - ou melhor dizendo, dos crocodilos - podem ser vistos de perto no Espírito Santo, tanto no Centro Ecológico Projeto Caiman (localizado em Vitória), quanto no Muses (no município de Jerônimo Monteiro). Inclusive, é no Muses que estão expostos alguns jacarés-do-papo-amarelo, que compõem seu acervo histórico-científico. 

O JACARÉ-DO-PAPO-AMARELO E A IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DA ESPÉCIE PARA A MATA ATLÂNTICA 

Típico da Mata Atlântica, o jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) é um réptil de hábitos noturnos distribuído por uma região que se estende do Rio Grande do Norte até a Argentina. Habitando brejos, mangues, lagoas, riachos e rios, quando filhotes sua alimentação é composta desde insetos e seres invertebrados até peixes, caramujos, aves e pequenos mamíferos na fase adulta. O período reprodutivo dessa espécie inicia-se no verão, com os machos copulando com várias fêmeas. Construído pela fêmea, o ninho recebe cerca de 30 a 50 ovos para uma incubação que pode chegar a 90 dias. Apesar da grande ninhada, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a espécie segue ameaçada de extinção com a destruição de seu habitat natural e a poluição dos rios.

O jacaré-do-papo-amarelo é uma das espécies mais encontradas na região urbana da cidade de Vitória (ES). Habitantes da região de Mata Atlântica há milhões de anos, o intenso processo de desmatamento do bioma (como você pode acompanhar nos eventos 

) e urbanização reduziram demasiadamente seu habitat natural, fazendo-a migrar para outros locais. Muito comum em ruas e vias movimentadas, sempre que você avistá-lo, entre em contato com os órgãos ambientais competentes, tais como a Polícia Ambiental ou o Ibama, para que esses animais sejam resgatados e recebam os cuidados necessários.

A perda de habitat do jacaré-do-papo-amarelo é potencializada por um complicador natural aos répteis, como é destacado em 

: a ausência de mecanismos que equilibram a temperatura interna. Em função disso, a temperatura corporal desses animais endotérmicos é regulada de acordo com o clima do ambiente externo. Quando a temperatura externa é alta, eles absorvem muito calor (razão pela qual ficam parados muito tempo expostos à luz solar). Para equilibrá-la com a temperatura interna, os jacarés se mantêm imersos em lama, lagoa ou outra fonte hídrica do seu habitat. Com a diminuição de manguezais, poluição e assoreamento de rios, esses animais perdem esses locais tão fundamentais para realizar a regulação térmica. 

Juntamente com as tartarugas e as baleias, o jacaré-do-papo-amarelo é uma das espécies mais ameaçadas de extinção no Espírito Santo. Esse cenário tem preocupado pesquisadores e ambientalistas nos últimos anos, já que, como predadores, os jacarés são ecologicamente importantes para o equilíbrio e saúde de seus habitats. Além de fazerem o controle biológico de outras espécies (se alimentando de animais mais velhos e fracos), suas fezes servem de alimento para peixes e outros seres vivos aquáticos.

Ao estudar a saúde dos jacarés é possível identificar, por exemplo, diferentes graus de poluição do ambiente aos quais eles pertencem, se há incidência de metal pesado, contaminação por antibiótico ou por produtos químicos agrícolas, entre outros. Inclusive, há casos de bactérias resistentes a antibióticos dispersados em mares, rios, lagoas e outros corpos d’água que já foram descobertas a partir da análise desses répteis!

Atualmente, a maior população de jacarés-do-papo-amarelo dentro do Espírito Santo fica dentro da reserva da ArcelorMittal Tubarão, localizada no município de Serra (ES). Como a área é privada, a caça ilegal e predatória não ocorre. Ao todo são 600 jacarés-do-papo-amarelo, distribuídos numa área de 4,5 milhões de metros quadrados: é a maior concentração dessa espécie no estado. Outras reservas espalhadas em terras capixabas - tais como o Parque da Cachoeira da Fumaça e o Parque Estadual Paulo César Vinha - também se destacam na preservação desses animais, porém em números bem reduzidos (de 30 a 50 jacarés, em média).

Os jacarés no Espírito Santo são chamados de “bandeira”, por haver em torno deles um forte projeto de conservação, que acaba gerando proteção para outras espécies com quem compartilham seu habitat. Essa curiosidade também ocorre em relação às iniciativas de conservação das baleias-jubarte, como pode ser notado no evento 

OS JACARÉS-DO-PAPO-AMARELO DO MUSES E AS AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DA ESPÉCIE

Por meio de doações, o Muses recebeu uma série de jacarés-do-papo-amarelo, hoje incorporados à sua coleção de vertebrados. São esqueletos completos e partes de peles taxidermizadas de filhotes e adultos.

As peças de jacarés adultos são provenientes de um criadouro localizado em Cachoeiro de Itapemirim, Sul capixaba, que tinha o objetivo de reintegrá-los à natureza. Como todo esse processo é longo e demanda pesquisas e investimentos, os animais desse estabelecimento foram eutanasiados (induzidos clinicamente à morte) e, posteriormente, doados ao Muses para pesquisa. O estabelecimento particular (hoje fechado) foi regulamentado para não comercializar o couro (muito utilizado na produção têxtil) e a carne do animal (normalmente destinada à alimentação).

Os filhotes também chegaram ao Muses a partir de uma doação, mas esses haviam nascido num cativeiro do Projeto Caiman. Este projeto é uma iniciativa do Instituto Marcos Daniel em parceria com a ArcelorMittal Tubarão, voltada para pesquisa e conservação das populações do jacaré-do-papo-amarelo e que gera dados técnicos-científicos de saúde e ecologia sobre a espécie. Os filhotes doados ao Muses estavam sendo acompanhados desde a eclosão dos ovos, com o objetivo de serem inseridos na região de reserva do projeto. Após uma forte onda de calor, os animais não resistiram ao superaquecimento e morreram. Infelizmente, não havia recursos hidrográficos (como lagos ou rios) no local, para que eles pudessem regular a temperatura corporal.

Podemos observar que tais doações hoje contribuem para a ciência, sendo utilizadas em pesquisas científicas que já apontam o cenário alarmante em que vivem os jacarés-do-papo-amarelo, ameaçados de extinção. Todo o trabalho realizado pelo Muses junto a estudantes universitários que acessam seu acervo tem tido como objetivo gerar aprendizado sobre a espécie, visando a preservação da população de jacarés, no estado e no país. Um exemplo disso foi o estudo, Notes on the gross anatomy of the heart of the broad-snouted caiman, Caiman latirostris (Daudin, 1802), referência na pesquisa de jacarés-do-papo-amarelo e empreendido por alunos do Curso de Biologia da Ufes acerca da anatomia dos corações desses animais.

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Published in 23/07/2021

Updated in 25/09/2021

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