Relato de Experiências - Corpo Educativo.

15/09/2022

No fluxo e no refluxo do público. Na construção e desconstrução de ideias. No bate e rebate da discussão. Em todo o contexto, havia a troca. E quando se experimenta. Quando existe conexão. A percepção se aguça. Se dilatam as possibilidades. A mente se amplia. E novas realidades se tornam possíveis. Uma verdadeira reviravolta, desponta um novo jeito de ver o mundo. 

Durante os três meses que a REVIRAVOLTA  esteve presente na cidade de Vitória - ES. Uma equipe composta por jovens artistas esteve à frente de todo o atendimento e acolhimento feito ao público nos espaços expositivos, chamamos essa equipe de corpo educativo.  

E por mais que estivessem preparados, afinados com o contexto dos trabalhos expostos, com a abordagem curatorial e narrativas presentes nas obras. Havia um campo infindável de possibilidades que a cada dia se expandia e que se relacionava com o público. Uma diversidade de pessoas, com múltiplas percepções, de diferentes faixas etárias, que já chegavam à exposição abastecidos de seus repertórios individuais. Por vezes acanhados, por outras vezes curiosos, ou mesmo afrontosos. O visitante, sempre de algum modo, reagiu. Um desafio, mas ao mesmo tempo um solo fértil e potente. 

E com muita sensibilidade e profissionalismo a equipe de mediadores, estava atenta a todas as questões, e trazem aqui o relatos dessa grande experiência. 

Fizeram parte deste corpo educativo, Bárbara Thomaz, Gabriel Rocha, Jaíne Muniz, Kleiton Rosa, Natália Basílio, Raoni Iarin e Thiago Sobreiro. Com coordenação de Karenn Amorim e Kênia Lyra. 

Relato de KLEITON ROSA

Quando o comodismo social e cultural começa a se tornar evidente, provocar um deslocamento de pensamentos se faz necessário. Após 3 meses em longo contato com os conteúdos da Exposição Reviravolta, percebo que este período foi fundamental para expandir questões que antes estavam de um certo modo camufladas em mim. Ter estabelecido uma relação direta com os trabalhos expostos, me fez descobrir e compreender discussões latentes que sem dúvidas irão reverberar em meus pensamentos daqui por diante. Afinal, uma exposição com tanta vivacidade e potência como a Reviravolta, torna-se quase impossível não perceber o mundo e a arte de outra forma. 

Em uma exposição totalmente de vídeo, por vezes não é fácil manter um tipo de atenção com o constante fluxo de imagens sendo observadas, mesmo que em nosso cotidiano, a afluência imagética seja tão presente. No campo da mediação, estabelecer um diálogo com o público se torna um desafio maior ainda. Em mediações com visitantes espontâneos, foi perceptível notar que o tema da exposição parecia ser novo para a grande maioria, tanto os discursos políticos e culturais fora do nosso eixo ocidental de pensamento, quanto da ideia do vídeo como linguagem artística. Em grupos com discentes, diferentemente, as compreensões pareciam estarem em processos de construção e a interação acabava por fluir melhor. 

O processo do educativo foi construído a base de um grande pensamento coletivo, todas mentes pensantes que compunham o corpo educativo foram fundamentais para se pensar todas as práticas e ações que foram desenvolvidas. Entre estratégias de mediação, proposições e ações pensadas, o educativo da Reviravolta estabeleceu um torso grupal a fim de construir o melhor caminho possível de entendimento entre espaço, exposição e público. 

Relato de JAÍNE MUNIZ

Assim como o nome da exposição evoca um fluxo de pensamentos que resgata, propõe e

repropõe diversas questões trazidas pela curadoria, o corpo educativo presente diariamente nos espaços do Museu de Arte do Espírito Santo e da Galeria Homero Massena em contato com o público visitante, foi levado a transitar por esse entre-espaços. Um dos desafios que percebi em relação ao público foi a experiência de estar em uma exposição apenas de vídeo. A mediação não poderia ser muito instrutiva onde se daria todas as informações sobre o trabalho, senão o público não teria interesse em continuar assistindo aos vídeos. Nos casos onde as pessoas não se importavam de receber informações vindas dos mediadores, diversas experiências eram percebidas. Uma parcela do público se interessava em assistir os vídeos por completo e passar bom tempo na exposição, e a outra parcela só observava os trabalhos de longe sem prestar muita atenção indo embora depois de poucos minutos dentro das galerias. 

Tais percepções serviram para que o processo de mediação mostrasse seus caminhos possíveis. Assumir o papel de estar presente todos os dias em direto contato com o público em uma exposição requer atenção, comunicação e sensibilidade para que o nosso espaço e o espaço do visitante seja respeitado. O diálogo entre curadoria e educativo se faz presente em momentos iniciais de uma mediação, mas com o aprofundamento das noções que envolvem algum trabalho específico ou questões pessoais que o visitante traz para o debate, as possibilidades de aprendizado comum reverberam para espaços que antes eram inimagináveis.

Como corpo educativo, planejamos, estruturamos e direcionamos ações, trocas e discussões pois compreendemos que essas são etapas fundamentais para que a  proposição da exposição não se perca ao sair do espaço expositivo, porém, acreditamos que, em qualquer reviravolta existe uma potencialidade que não faz parte de nós como educativo ou instituição, e que somos apenas ativadores de algo que pode se tornar muito

maior.

Relato de RAONI IARIN

Observa-se que a educação na arte ocupa um lugar muito complexo, porque é vista e conduzida de diferentes maneiras, instituída e significada por diversas perspectivas. Essa intersecção é complexa e estabelece contato por inúmeras formas, seja pelo trabalho de arte, pela disposição de uma instituição nas comunidades que a envolvem, pelos textos e imagens visíveis e invisíveis que circunscrevem o espaço ou pela junção ou pela separação dos conceitos que envolvem os dois campos. Nesse sentido, vamos ao encontro das mediações, pensando sobre as mais diferentes percepções, referências, conhecimentos e relacionamentos que dentro dessa composição espacial e ideológica - das instituições e exposições de arte - atuam diretamente no desenvolvimento de aproximações, afastamentos, leituras, sentidos e contextos, tanto para o público, como para os educadores e outros setores institucionais envolvidos nos exercícios de recepção. 

A exposição reviravolta foi uma experiência extremamente enriquecedora, a formação que a equipe recebeu foi essencial para nos prepararmos para os inevitáveis casos e acasos que aferem as relações do espaço. Tive a oportunidade de conhecer uma equipe maravilhosa que atua nos diferentes setores que mantêm o espaço em pleno funcionamento para comportar todos os dias da amostra. Por esse caminho, também foi muito interessante e imprescindível o contato com a vivência de diversas visitantes, alunas e professoras que, a partir de suas histórias e experiências, acrescentaram para o sentido de toda composição curatorial e dos trabalhos.

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Published in 16/09/2022

Updated in 16/09/2022

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