RIO ITAPEMIRIM

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O PEIXE CASCUDO DO MUSES E O PRINCIPAL RIO DO SUL DO ESPÍRITO SANTO

O rio de uma região é capaz de contar muitas histórias, afinal, são corpos hídricos formados ao longo de milhões de anos. Se fosse escolhido um rio capixaba para contar as histórias da região Sul do Espírito Santo, com certeza seria o Itapemirim - visto que, ao longo de seus quase 212km de extensão, suas águas passam por dezessete municípios. Mas neste evento, em que o Rio Itapemirim será o protagonista, sua história será contada por meio do cascudo, um peixe de água doce muito comum em todo o seu curso.

Peixe Cascudo pertencente ao acervo do Muses. 

O cascudo possui o corpo delgado, com placas ósseas - que funcionam como as escamas de outros peixes - e uma grande cabeça. Sua boca, geralmente rodeada por barbas, apresenta um mecanismo de ventosa e está localizada na parte inferior da face. A coloração desses peixes é basicamente parda, com a incidência de eventuais manchas escuras. Além disso, esses peixes podem medir até cerca de 40cm e pesar até aproximadamente 1,5kg. Indivíduos desta espécie vivem a cerca de 30m de profundidade e seus hábitos alimentares abarcam lodo, vegetais e algas presentes em pedras, além de pequenos crustáceos e restos orgânicos em geral.

De hábitos noturnos, os cascudos são conhecidos pela natureza pacífica. Contudo, esses animais possuem ferrões nas nadadeiras dorsais e anais, que se assemelham a espinhos duros. Esse mecanismo de defesa só é utilizado em situações extremas, como no caso de serem engolidos por outros peixes. Além disso, o período reprodutivo da espécie ocorre entre os meses de novembro e fevereiro, com baixa taxa de fecundidade.

No Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses) você pode ver de perto um exemplar original desse peixe. A peça com cerca de 20cm é fruto de uma doação ao museu comissionada pelo Laboratório de Zoologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O peixe é popularmente conhecido como acari ou peixe-gato, e é uma espécie encontrada exclusivamente em ambientes de água doce das Américas Central e do Sul, em corpos hídricos semelhantes ao Rio Itapemirim. Na América do Sul existem cerca de 400 tipos diferentes de peixe cascudo.

O Itapemirim compõe uma das 14 bacias hidrográficas que cortam todo o estado capixaba, de norte a sul. De acordo com dados dos Comitês das Bacias Hidrográficas no Estado do Espírito Santo, vinculados à Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), hoje o estado possui as bacias Afluentes Capixabas do Rio São Mateus, Barra Seca e Foz do Rio Doce, Benevente, Guandu, Itabapoana, Itaúnas, Jucu, Litoral Centro Norte, Pontões e Lagoas do Rio Doce, Rio Novo, Santa Joana, Santa Maria da Vitória e Santa Maria do Rio Doce.

Rio Itapemirim visto da Ponte de Ferro, em Cachoeiro de Itapemirim. Fonte da imagem: Wikipedia/Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim 

Além de sua nascente em Muniz Freire, o Rio Itapemirim também possui uma nascente na região do 

Como já mencionado, os quase 212km de extensão desse rio atravessam dezessete municípios capixabas: Alegre, Atílio Viváqua, Conceição do Castelo, Castelo, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Jerônimo Monteiro, Muniz Freire, Muqui, Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante, Itapemirim, Cachoeiro de Itapemirim, Marataízes e Iúna, além do município mineiro de Lajinha. Seu nome deriva de “itapemiri", que em tupi antigo significa “pequena pedra achatada”.

No verão, época de fortes chuvas na região Sul do estado, é comum a ocorrência de enchentes que devastam cidades e desalojam populações inteiras. Muitas dessas calamidades são provocadas pela baixa capacidade hídrica do Rio Itapemirim, que é um indicativo da existência de uma grande demanda por água - principalmente para a geração de energia elétrica nas cidades abarcadas pelo rio - numa bacia que já possui uma baixa vazão de água. Dentre as causas que acentuam esse aspecto do Itapemirim estão a falta de chuvas e o desmatamento causados pela ação humana na natureza.

Avenida Beira-Rio, em Cachoeiro de Itapemirim, durante enchente em Janeiro de 2020. Fonte da imagem: Folha Vitória 

 

A IMPORTÂNCIA DO RIO ITAPEMIRIM NAS PRIMEIRAS EXPEDIÇÕES

 DE COLONIZAÇÃO DO SUL CAPIXABA

A importância do Rio Itapemirim remonta aos primórdios da invasão europeia no Espírito Santo, história que pode ser aprofundada no evento 

Até pouco tempo acreditava-se que a história da colonização dos municípios permeados pelo Itapemirim havia sido iniciada em 1820, na expedição do sargento-mor português Manoel José Esteves de Lima. Porém, estudos do Instituto Histórico e Geográfico de Alegre (IHGA) mostram que o povoamento da região começou cinco anos antes, com a chegada de João do Monte da Fonseca. Para entender melhor esses acontecimentos é necessário voltar na história, ao ano de 1808, marcado pela transferência da corte portuguesa para o Brasil.

Embarque da família real portuguesa no cais de Belém. Fonte da imagem: Google Arts & Culture/Nicolas-Louis-Albert Delerive 

Durante 1808, as primeiras fazendas instaladas na fronteira entre Minas Gerais e Espírito Santo eram frequentemente atacadas por guerreiros Kaingang (botocudos). Nos eventos 

, você pode observar que essas populações originárias ofereceram forte resistência à invasão portuguesa no Espírito Santo, ao ponto de impedirem o desenvolvimento econômico da região, baseado no extrativismo do pau-brasil e na produção canavieira.

Motivado pelos recorrentes conflitos, o então príncipe regente D. João VI (1767-1826) resolveu criar a Companhia de Civilização da Conquista dos Índios e Navegação do Rio Doce. À ela foi ordenado executar qualquer índio que não aceitasse abandonar suas tradições ou que não se submetesse ao trabalho escravo para a Coroa Portuguesa pelo tempo mínimo de 10 anos.

Dom João VI de Portugal. Fonte da imagem: Wikipedia/AlbertJakob Frans Gregorius 

A primeira expedição da Companhia foi comandada por João do Monte da Fonseca, em 1810, e resultou na abertura da Estrada Pedro de Alcântara do Rio Pardo. Ligando os atuais municípios capixabas de Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire à Castelo, a via visava facilitar o acesso às minas da cidade e à Vila de Vitória. Hoje seus trechos remanescentes fazem parte da BR-262. Mais tarde, em 1815, foi ordenada a João do Monte mais uma tarefa: abrir outra estrada, dessa vez no extremo sul do Espírito Santo, na divisa com o Rio de Janeiro. Essa expedição tinha o objetivo de realizar reparos a um percurso já existente, possivelmente utilizado por contrabandistas que desviavam riquezas minerais. 

Conhecer o pioneirismo desses eventos só foi possível pela descoberta do diário de João do Monte, feita anos mais tarde por Manoel José Pires da Silva Pontes, o nono presidente da província do Espírito Santo. No documento, João narrou toda a trajetória das expedições pelo Sul capixaba, desde sua saída de Mariana, em Minas Gerais, passando por São Miguel das Almas de Arrepiados (atual cidade mineira de Araponga), até chegar no Quartel da Glória, em Vila Velha (ES). Somente em 1920 que foi concedido ao sargento-mor Manoel Esteves de Lima o direito de explorar o território, realizando obras como a que viabilizou a confluência dos rios Castelo e Itapemirim. Só então ele distribuiu terras a seus subordinados, para que pudessem fundar fazendas e ranchos de apoio aos viajantes que cruzavam a região.

Durante o período conhecido como Brasil Colônia, a bacia do Rio Itapemirim foi uma típica região produtora de cana-de-açúcar. Com o declínio dessa produção anos mais tarde, a ocupação das terras envoltas pelo Itapemirim foi dinamizada para introduzir a cafeicultura, acontecimento destacado em

Ambas atividades geraram consequências graves aos biomas que cercam essa bacia hidrográfica, como pode ser visto até hoje em épocas de chuvas fortes e enchentes. Erosões de vários níveis e assoreamento das calhas dos córregos e rios são apenas alguns resultados de décadas de uso da terra para cultivo direcionado à economia. Como pode ser apreendido em 

, esse esgotamento da fertilidade das terras também foi um dos fatores responsáveis pela refração da economia cafeeira, que por sua vez provocou um grande fluxo de camponeses para os centros urbanos.

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Published in 27/07/2021

Updated in 25/09/2021

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