PALEOZOICO

541000001 BCE (Circa)View on timeline

A TRILOBITA NO MUSES 

Um dos fósseis mais importantes que podem ser encontrados no Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (MUSES) demarca um tempo histórico de grande desenvolvimento da vida na Terra. Hoje a trilobita compõe o acervo do MUSES, mas o registro de sua existência nos revela uma história de seres que viviam em abundância, há milhões de anos, em ambientes marinhos. Determinantes para o surgimento de outras espécies existentes hoje na fauna mundial, esse animal pré-histórico pode ajudar na melhor compreensão desse período que a Ciência denomina de Paleozoico.

Trilobita do Marrocos exposta no Muses. 

As trilobitas podiam chegar a medir até 80cm, com extensão que variava de 3 a 10cm. Seu corpo era composto basicamente por três partes no sentido anterior-posterior, ou tagmas: o céfalo (carapaça, olhos, boca e tubo digestivo); o tórax articulado e segmentado (meio do corpo); e o pigídio na parte posterior (como um escudo caudal). Além disso, eram compostos por duas partes longitudinais: os lobos pleurais, nas laterais; e o lobo axial, no centro do corpo do animal.

Artrópodes que surgiram no período Cambriano, elas foram os primeiros antepassados de insetos e crustáceos. Um estudo publicado em 2019 pelos pesquisadores brasileiros Fábio Augusto Carbonaro, Renato Ghilardi, Max Cardoso Langer e Silvio Shigueo Nihei da Universidade Estadual Paulista (UNESP), buscou reconstruir a linhagem ancestral de trilobitas a partir de registros fósseis da espécie Metacryphaeus, detectados em diversos países do Hemisfério Sul. De forma inédita foi possível constituir alguns padrões paleobiogeográficos (relação entre espécies animais e vegetais com características geográficas antigas) entre as trilobitas. Revelou-se, então, que os parentes vivos mais próximos dessa espécie são os camarões e mais distantes estão as aranhas, os escorpiões, as aranhas-do-mar e os ácaros. 

Fósseis: Trilobitas.

Assim como alguns de seus parentes contemporâneos, as trilobitas possuíam um esqueleto externo (exoesqueleto) impermeabilizado por uma camada de cera e rígido, que auxiliava na sustentação de seu corpo.  A presença dessa adaptação evolutiva viabilizou a melhor preservação de seus fósseis até os tempos atuais. Inclusive, supõe-se que esses animais trocavam tantas vezes de forma e esqueleto que apenas um exemplar pode ter originado vários registros fósseis.

Trilobitas do período Cambriano. Fonte da imagem: Wikipedia 

Um outro atributo físico relacionado às trilobitas era sua visão extremamente apurada. Os primeiros olhos complexos do reino animal podiam se apresentar de duas formas: por meio de olhos holocroidais, formados pela união de aproximadamente 15.000 pequenas lentes hexagonais que, agrupadas como células de uma colmeia, apontavam para direções diferentes sob uma mesma córnea; ou por olhos esquizocroidais, que, devido às lentes amplas e arredondadas, produziam imagens mais nítidas do que estava sendo observado.

Anatomia de uma Trilobita. Fonte da imagem:  museudastrilobites.pt 

Contudo, sua alimentação ainda permanece uma incógnita, com algumas especulações de que esses seres se alimentavam de restos de outros animais ou até mesmo de serem predadores carnívoros ou filtradores. Ainda que presente em todos os períodos da era Paleozoica, as trilobitas se destacaram no período Cambriano, onde habitaram o topo de cadeia alimentar. 

A ERA PALEOZOICA E A CONSOLIDAÇÃO DA VIDA NA TERRA 

Como pode ser visto em 

, desde aproximadamente 540 milhões de anos que o planeta tem passado por transformações fundamentais para a consolidação da vida. O que agora conhecemos como Explosão do Período Cambriano ocorreu numa era geológica chamada de Paleozoico, esta por sua vez pertencente ao éon Fanerozoico. Mas você deve estar se indagando: “período”, “era geológica”, “éon” - o que isso significa?

Segundo a Comissão Internacional sobre Estratigrafia da União Internacional das Ciências Geológicas, a Escala de Tempo Geológico é a representação de uma linha do tempo desde a formação da Terra (4,5 a 4 bilhões de anos atrás) até o momento presente. Ela pode ser dividida em éons, eras, períodos, épocas e idades. Por exemplo: o Cambriano foi o primeiro (e mais antigo) período do Paleozoico; este, por sua vez, foi a era mais antiga do éon Fanerozoico.

Escala do tempo geológico. Fonte da imagem: cienciasbemexplicadas.wordpress.com 

Na altura do Paleozoico, os continentes estavam em fase de formação para no fim se tornarem a Pangeia. Outros dois eventos são característicos desse período: o surgimento da vida nos mares e a diversificação da vida em ambiente terrestre. São dessa época os primeiros peixes com mandíbulas e pares de nadadeiras, e os artrópodes como aranhas, centopeias, insetos com asas, vespas, piolhos, besouros, cigarras, mariposas etc. Foi aqui que se formaram as primeiras geleiras e florestas, como a Fauna do Folheto de Burgess, um dos primeiros registros dessa era.

Por ter sido uma era que perdurou cerca de 300 milhões de anos, o Paleozoico foi subdividido em seis períodos distintos: Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero e Permiano.

O Cambriano (entre 545 e 485 milhões de anos) marcou o início da era Paleozoica, caracterizando-se principalmente pela expansão da vida marinha. Isso se deu basicamente pela falta de predadores, pela mudança geoquímica (por conta da temperatura elevada) e pelo aparecimento de conchas e recifes nos mares. Inclusive, foram nestes locais onde surgiram os principais grupos de organismos e também um dos grupos mais importantes de invertebrados: as trilobitas. Geograficamente, os continentes ainda estavam agrupados e cercados por água.

A expansão Cambriana.

Marcado pela diversificação e disseminação de animais invertebrados, peixes e outros seres que possuíam conchas, o Ordoviciano (entre 488 e 443 milhões de anos) presenciou a expansão da fauna quatro vezes a mais que o período anterior. A queda do nível dos mares, depois revertida para grandes inundações de terras antes emersas, deu origem a áreas de águas rasas e aos primeiros carnívoros e herbívoros móveis. Aqui, os continentes estavam alocados no hemisfério sul. Ao seu final, a Terra é atingida por uma verdadeira era glacial, formando as geleiras e levando à maior extinção da era Paleozoica até então.

A diversificação do Ordoviciano.

No período Siluriano (entre 443 e 416 milhões de anos), a Terra passou novamente por um longo período glacial, provocando a extinção da maioria dos organismos. Os mares perderam grande parte de sua diversidade, restando organismos muito específicos que conseguiram se adaptar às baixas temperaturas e às altas latitudes. Somente no final desse período que a vida começou a se recuperar, com a formação de ecossistemas mais complexos e seres que podiam viver tanto na água quanto na terra. Aqui, as trilobitas deixam de ser abundantes e surgiram os primeiros peixes ósseos, bem como as primeiras plantas desprovidas de condutores de seiva: as cooksonias - veja

São registrados os primeiros fósseis de artrópodes do grupo dos escorpiões, centopeias e aranhas.

O período Siluriano.

Devoniano, o período da vida marinha! Foi aqui, há aproximadamente 416 e 359 milhões de anos, que ocorreu um grande desenvolvimento da vida em ambiente aquático: peixes ósseos e tetrápodes, corais, trilobitas, entre outros. Além disso, algumas plantas, insetos e anfíbios começaram a deixar a água, passando a habitar terra firme. Com essa transição de ambientes, os níveis de C02 da porção terrestre foram reduzidos, permitindo, posteriormente, a formação de florestas. No final do Devoniano, algumas porções continentais começaram a migrar para o hemisfério norte, provocando o desaparecimento de comunidades de recifes, trilobitas, moluscos e a maioria dos peixes. A vida presente na região sul permaneceu intacta.

Devoniano.

Entre 359 e 299 milhões de anos atrás, no período Carbonífero, surgem importantes jazidas de carvão mineral. Nesse momento da história, as trilobitas começaram a entrar em declínio. Os peixes ósseos dominam o mar e as grandes florestas tornaram-se habitat de grande parte dos artrópodes, anfíbios e répteis. Estes, por sua vez, evoluíram drasticamente no quesito reprodutivo, se diversificando ainda mais no período Permiano. A flora do Carbonífero se caracterizava por florestas tropicais, repleta de plantas arborescentes chegando a 45 metros de altura, como samambaias e outras pteridófitas. As florestas cresciam em torno dos mares e, por isso, eram ambientes úmidos. Além do forte desenvolvimento das espécies, esse período foi marcado por um grande acontecimento: a formação do supercontinente Pangeia.

O período Carbonífero.

E, finalmente, chegamos ao Permiano, que corresponde ao período entre 299 e 251 milhões de anos atrás. No último período da era Paleozoica, os mais diversos insetos terrestres e vertebrados passaram a habitar o ambiente terrestre. O fim da era glacial derreteu as geleiras que até então cobriam grande parte do continente e possibilitaram uma mudança climática que proporcionou a elevação da temperatura média do planeta. Além disso, com o choque das placas continentais, surgiram montanhas que, por sua vez, modificaram o regime de circulação dos ventos. Essa mudança geológica acarretou a aridização das regiões mais internas da Pangeia.

A extinção do Permiano.

Muitas espécies animais e vegetais surgiram e desapareceram só no Paleozoico. Após um processo de aquecimento global causado pelo aumento da temperatura média terrestre, temos a maior extinção já registrada em toda a história do planeta. Segundo um estudo publicado em 2014 na PNAS (revista Proceedings of the National Academy of Sciences, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos), a Extinção Permo-Triássica (P-T) dizimou cerca de 96% das espécies marinhas, incluindo todas as espécies de trilobitas, corais e tabulados; e boa parte dos animais terrestres, como o plesiossauro, sinápsidos (antecessores dos mamíferos) e diversos anfíbios. Segundo o pesquisador Seth Burgess, essa extinção aconteceu num período de tempo tão curto que impossibilitou os seres vivos de se adaptarem à nova realidade. 

No entanto, a Extinção Permo-Triássica não impediu que a vida continuasse o seu curso sob a Terra. Após um longo período de tempo, o éon seguinte (chamado de Mesozoico) foi palco da ascensão de algumas espécies sobreviventes, que darão origem aos primeiros dinossauros avianos, como pode ser visto em 

0 comments

Comment
No comments avaliable.

Author

Info

Published in 16/06/2021

Updated in 25/09/2021

All events in the topic Fauna bichos do mar:


541000001 BCE (Circa)PALEOZOICOPALEOZOICO
16/06/1981 • 14:28:12 BCEPETRÓLEOPETRÓLEO
75000001 BCE (Circa)GONDWANA - VIDA MARINHA - CONEXÃO BRASIL-ANTÁRTIDA GONDWANA - VIDA MARINHA - CONEXÃO BRASIL-ANTÁRTIDA
56000001 BCE (Circa)EOCENOEOCENO
1986PROIBIÇÃO À CAÇA DAS BALEIASPROIBIÇÃO À CAÇA DAS BALEIAS
23000001 BCE (Circa)ABERTURA DA PASSAGEM DE DRAKE
1815RIO ITAPEMIRIM