SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO SUL DO ESPÍRITO SANTO

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SAMBAQUIS, OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO SUL CAPIXABA

Resultantes de ações das populações originárias que habitaram a região costeira do Brasil há cerca de 6 mil anos, os sambaquis são montes compostos por moluscos advindos das mais diversas fontes (aquáticos e terrestres), esqueletos de seres pré-históricos, conchas e utensílios feitos de pedra ou osso. O termo origina-se do tupi, que significa “amontoado de conchas”. Também conhecidos como casqueiros, concheiros ou berbigueiros, os sambaquis possuem dimensões e formas variáveis, sendo encontrados em diversos estados litorâneos.

Sambaqui Figueirinha I, em Santa Catarina. Possui cerca de 18 metros de altura. Fonte da imagem: Wikipedia/Thigruner 

Os primeiros sambaquis estudados foram descobertos na Dinamarca no século XIX e datam de cerca de 4.000 aC. Porém, os maiores sambaquis do mundo estão dentro do território brasileiro. O litoral do estado de Santa Catarina abriga o maior deles, com 25m de altura e centenas de metros de extensão, com origem de aproximadamente 5 mil anos atrás. Outros locais como Amazonas e Xingu também têm registros dessas construções que compunham aldeias pré-históricas. No Espírito Santo, uma baía de Vitória guarda os principais sítios arqueológicos sambaquis, próximos a manguezais. Apesar do grande ritmo de visitações, eles se mantêm bem conservados, alguns praticamente intactos.

Em 2000, uma pesquisa fomentada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e empreendida pelos pesquisadores brasileiros Paulo De Blasis e Maria Dulce Gaspar revelou que os sambaquis seriam frutos de ações propositais dos primeiros habitantes do litoral brasileiro. Contudo, ainda há divergências que tangem o real objetivo dos sambaquis. Alguns achados dizem que tais construções podem ter sido uma espécie de acampamento temporário para os habitantes pré-históricos nômades e seminômades, o que justifica a descoberta de restos humanos nos locais.

Outros já afirmam que os sambaquis seriam depósitos de restos de alimentos, como carcaças e ossadas de animais, bem como para abrigo de sepulturas humanas, porém nunca como moradia. Dentre as diversas espécies animais encontradas em sambaquis, destacam-se moluscos do grupo dos gastrópodes, tais como o cassis e o adelomelon. Atualmente, exemplares dessas espécies podem ser vistas de perto no acervo do Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses).

 

O FÓSSIL HUMANO MAIS ANTIGO DAS AMÉRICAS E A ORIGEM DOS PALEOÍNDIOS BRASILEIROS

Você consegue imaginar a região do Espírito Santo a aproximadamente 6 mil anos atrás? Como pode-se observar em 

, nos períodos mais recentes da era Cenozoica algumas mudanças climáticas e geográficas no planeta Terra foram determinantes para o intercâmbio de diferentes espécies animais entre os continentes. Um exemplo disso foi a formação de pontes terrestres na região onde hoje localiza-se o estreito de Bering (que liga Eurásia à América do Norte) e o istmo do Panamá (na América Central). Estima-se que essas transformações viabilizaram a chegada dos primeiros exemplares da espécie humana ao continente americano, ainda durante a Glaciação Würm no Pleistoceno. E é deste mesmo período que é datado o fóssil humano mais antigo já encontrado nas Américas.

Em 1975, uma missão científica franco-brasileira liderada por Annette Laming-Emperaire (1917-1977) explorou o sítio arqueológico de Lapa Vermelha, localizado no município de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais. Este lugar já era famoso pelos registros fósseis de plantas e animais extintos do Pleistoceno detectados pelo naturalista e paleontólogo Peter Lund (1801-1887) no século XIX. Foi lá que, décadas mais tarde, Laming-Emperaire e sua equipe encontrou vestígios de um esqueleto humano, datado de entre 12 e 10 mil anos atrás. Após estudos, identificou-se que o fóssil - batizado de “Luzia” pelo biólogo brasileiro Walter Neves (1957-) na década de 1990 - era de uma mulher que morreu entre os seus 20 e 24 anos de idade. Outra descoberta foi que Luzia era de uma linhagem genética muito próxima à paleoíndios que, mais tarde, 

Luzia: o fóssil mais antigo das Américas. Fonte da imagem: Wikipedia/User:Dornicke 

Milênios mais tarde, por volta de 4.000 aC, as civilizações mais importantes da história da humanidade começaram a se destacar em diversas partes do mundo: sumérios, egípcios, chineses etc. Nessa época, importantes inovações na comunicação, na arquitetura, nas línguas e na escrita começam a aparecer, bem como outros processos evolutivos socioculturais e tecnológicos. Enquanto isso, no Sudeste do Brasil, mais especificamente no Espírito Santo, os primeiros grupos populacionais elaborados se formavam, muito tempo antes das invasões portuguesas que culminaram na colonização dos indígenas durante o século XV e XVI. Registros fósseis encontrados na região da Serra da Gironda, em Cachoeiro de Itapemirim, apontam que há 6 mil anos parte do litoral capixaba já era habitado por povos originários.

 

A DIVERSIFICAÇÃO DOS GASTRÓPODES EM AMBIENTES AQUÁTICOS E TERRESTRES

Como também pode ser observado em 

, os gastrópodes são animais que podem ser aquáticos ou terrestres, basicamente em ambientes úmidos. Dentre suas principais características estão a presença de uma concha única e espiralada e a respiração por meio de brânquias, no caso das espécies aquáticas, e pulmões, nas espécies terrestres. Além disso, os representantes desse grupo são os caracóis, caramujos, lesmas, búzios, lapas, litorinas etc., que formam a classe mais diversificada dentre os moluscos: são cerca de 45 mil espécies vivas e 15 mil espécies fósseis. 

Os gastrópodes são, em sua maioria, moluscos de movimentos lentos que se arrastam sobre o solo. Mas também existem espécies nadadoras, viventes em águas doce e salgada. São animais que possuem variáveis, podendo ser microscópicos ou gigantes. Alguns exemplos são os Cassis e os Adelomelon (que chegam a medir até cerca de 40cm de comprimento), o Pleuroploca (um caracol que apresenta uma concha que passa dos 60cm) e o Aplysia (que pode ultrapassar 1m de comprimento). Apesar dessas medidas maiores, o tamanho da boa parte dos gastrópodes varia entre 1 a 8cm.

Um gastrópode gigante. Fonte da imagem: Pexels/Valeria Miller 

Diante dessa diversificação anatômica, moluscos desse grupo se distinguem em três subclasses: prosobrânquios (composto por caracóis marinhos e algumas espécies terrestres com tentáculos e hermafroditas), opistobrânquios (espécies marinhas que vivem próximas a pedras, carnívoras e que apresentam espinhos) e os pulmonados (inclui todos os gastrópodes terrestres e a maioria dos de água doce). Eles possuem grande importância econômica por conta de suas conchas, que podem ser aproveitadas na produção industrial, bem como por sua carne. 

Além de serem bioindicadores de poluição natos, alguns gastrópodes funcionam de habitat para outras espécies de animais e plantas, podendo, eventualmente, transmitir doenças e ser considerados verdadeiras pragas de plantações. Porém, esse grupo de animais possui grande importância para a Paleontologia, já que a facilidade de fossilização de suas conchas permite o estudo de eventos do passado, como a idade de rochas e os hábitos alimentares de seres vivos pré-históricos.

 

CASSIS E ADELOMELON: OS GASTRÓPODES DO MUSES

Cassis e adelomelon são alguns dos gastrópodes mais locais nos sítios arqueológicos sambaquis do Espírito Santo e alguns exemplares compõem atualmente o acervo histórico-científico do Muses. As peças chegaram à instituição por meio de doação do [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS] e datam de aproximadamente [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS]. Encontrados nas regiões [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS] do Espírito Santo, tais animais, além de sua importância histórica, também são fundamentais para os ecossistemas capixabas, já que são bioindicadores de superiores.

Popularmente conhecido como búzio, Cassis é um gênero de molusco marinho predador que pertence à família Cassidae, cuja maior representante é uma Cassis tuberosa. Além disso, são caracterizados por suas conchas, que podem chegar a 40cm e servem de alimento e objeto de decoração. Esses gastrópodes estão presentes em regiões tropicais, nas costas rasas dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Muito comuns nas florestas de Recife, do estado de Pernambuco, o Cassis se alimenta majoritariamente de ouriços e bolachas-de-praia. Por meio da utilização de ácido sulfúrico, ele corrói o esqueleto da presa e depois com seu aparelho bucal “raspa” a parede interna do corpo da presa.

Gastrópode Cassis pertencente ao acervo do Muses. Visão frontal. 
Gastrópode Cassis pertencente ao acervo do Muses. Visão lateral. 

Já os gastrópodes do gênero Adelomelon são mais frequentes em regiões mais ao sudoeste do oceano Atlântico, entre o sul da costa capixaba e a Terra do Fogo, na Argentina. Pertencentes à família Volutidae, o grupo desses moluscos predadores contém o maior caramujo do Atlântico ocidental e também um dos maiores gastrópodes marinhos do mundo, o Adelomelon beckii, cuja concha pode chegar a até 49cm de comprimento!

Gastrópode Adelomelon pertencente ao acervo do Muses.  

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Published in 20/07/2021

Updated in 25/09/2021

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