PETRÓLEO

16/06/1981 • 14:28:12 BCEView on timeline

OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E SEUS IMPACTOS AOS BIOMAS DA TERRA

As plantas são seres fundamentais para toda a vida na Terra. Esses organismos, por meio da absorção da luz solar, nutrem-se de gás carbônico (CO2) e liberam oxigênio na atmosfera, processo conhecido como fotossíntese. Mas imaginemos o seguinte cenário: num futuro não tão distante, os principais biomas do planeta são devastados pela ação humana, que desmata, polui e queima esses ecossistemas. Por um outro lado, o crescimento das áreas urbanas e industriais e o avanço tecnológico provocam o uso desenfreado de máquinas que utilizam combustíveis fósseis como o petróleo e o gás natural. A maior quantidade desses gases no ar eleva a temperatura do planeta, causando o derretimento das geleiras nos polos, o aumento do nível do mar e a destruição da camada de ozônio. Diante disso, na sua opinião, quais impactos seriam gerados com essas mudanças? Elas teriam influência na sua qualidade de vida? 

Efeito estufa e aquecimento global.

Esse contexto, a princípio hipotético, já começa a ser uma realidade. O CO2 é o responsável pelo efeito estufa, que retém a radiação solar na Terra e gera calor para mantê-la aquecida durante a noite. Mas nas últimas décadas, a interferência dos seres humanos em rios, mares e florestas tem causado uma elevação dos níveis desse gás na atmosfera, provocando o superaquecimento do planeta. O uso desenfreado de fontes energéticas não renováveis e formadas há bilhões de anos, como os combustíveis fósseis, tem sido um dos fatores para o agravamento do que conhecemos como aquecimento global. Um desses combustíveis é o petróleo, uma mistura de substâncias oleosas que está presente em boa parte do que consumimos, mas que também está no centro de desastres ambientais gigantescos e de conflitos geopolíticos ao redor do mundo.

OS FÓSSEIS E A FORMAÇÃO DO PETRÓLEO

Os fósseis são muito fundamentais para a compreensão da vida, mas eles também são importantíssimos para a economia e o meio ambiente, uma vez que são matérias-primas para formação do petróleo. Você pode estar se perguntando: “Mas os fósseis? Que relação esses restos de seres vivos podem ter com o petróleo, por exemplo?” Para compreender essa resposta, é preciso relembrar como se formam os combustíveis fósseis, história contada com mais detalhes no evento 

As substâncias que formam os combustíveis fósseis se originaram há milhões de anos. Esse processo ocorreu por meio da decomposição de matéria orgânica animal e vegetal em ambientes terrestres e aquáticos, sob circunstâncias específicas de pressão e calor. Esses combustíveis são compostos basicamente por hidrocarbonetos, moléculas de carbono e hidrogênio de variáveis configurações, além de quantidades pequenas de outros elementos químicos como enxofre, nitrogênio e oxigênio. É comum identificar esses combustíveis em rochas sedimentares.

O petróleo é um combustível fóssil. Fonte da imagem: blogdaengenharia.com 

A constituição química do petróleo também é caracterizada por uma presença significativa de microfósseis provenientes de protozoários, algas e outros organismos. Estes possuíam uma espécie de “exoesqueleto” formado por silício (sílica), carbono (carbonatos), dentre outros. Sabe-se também que alguns macrofósseis de peixes podem estar presentes na composição desse valioso óleo. Atualmente, o Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (MUSES) apresenta em seu acervo o fóssil de um peixe que, ao ser submetido às condições ideais, poderia ter sido convertido em petróleo. Essa peça foi encontrada na bacia sedimentar da Chapada do Araripe, localizada no Nordeste brasileiro.

A HISTÓRIA DO PETRÓLEO POR MEIO DO PEIXE FÓSSIL DO MUSES

A espécie que hoje pode ser vista em exposição no Muses é um Rhacolepis buccalis, um peixe que viveu há cerca de 115 milhões de anos, durante o período Cretáceo da era Mesozoica. Esse animal possuía corpo fusiforme (alongado e estreito nas extremidades) e, ao longo da vida, podia atingir cerca de 25cm em idade adulta.

Peixe fossilizado exposto no Muses. 

Os peixes são um dos primeiros grupos de vertebrados a surgirem no planeta, datando aproximadamente de 542 milhões a 488 milhões de anos atrás, ainda no Cambriano. De lá para cá, várias espécies surgiram e desapareceram. Existentes até hoje, esses animais marinhos compõem um grupo parafilético, agrupado não por ancestralidade, mas por semelhança anatômica entre os indivíduos. No entanto, possuem uma anatomia muito diferente de outros vertebrados que compartilham o meio aquático, como tubarões e baleias. 

Apesar dos diferentes formatos, estruturas e biomas que ocupam, existe uma anatomia básica dos peixes. Porém, para grande parte da comunidade científica, essa classificação anatômica não é tão aceita, por fatores de ancestralidade que ficaram mais claros conforme mais estudos foram feitos sobre os animais vertebrados ao longo do tempo.

Pesquisas paleontológicas recentes ainda tentam preencher lacunas dos caminhos percorridos por esses animais na sua adaptação à vida na Terra. A descoberta, em 2016, de um coração fossilizado do Rhacolepis buccalis (a mesma espécie presente no MUSES) representou um marco na história da paleontologia, por ser o primeiro fóssil desse órgão a ser encontrado por estudiosos. A análise da peça constatou que o coração do R. buccalis possuía cinco valvas, em contraste com a anatomia atual dos peixes, que possui coração com apenas uma valva. 

modelo 3D do coração do Rhacolepis buccalis. Fonte da imagem: LNBio 

Esse fóssil é uma evidência de que a evolução é um fenômeno natural em que mudanças não significam o "ganho" de novos membros. Lembremos que as serpentes de hoje “perderam” vários membros do corpo e ossos do crânio durante seu percurso adaptativo. O que pode ter provocado essas e outras mudanças adaptativas? A Ciência ainda busca respostas para tal pergunta, mas o achado feito em 2016 já foi de crucial importância ao preencher a ausência de dados que temos em relação à biologia e à evolução dessas espécies em tempos remotos.

EXTRAÇÃO PETROLÍFERA: IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS

Onde você acha que estão os combustíveis fósseis na sua vida? Apenas no fogão a gás ou num posto de abastecimento? E o petróleo, onde podemos encontrá-lo no seu dia a dia? No asfalto das ruas por onde você anda? No tanque de gasolina dos carros? Saiba que a roupa que você está vestindo agora foi feita com petróleo! Ele também está no esmalte que é passado nas unhas, no chiclete e no refrigerante. Todos esses produtos são derivados do petróleo por possuírem essa substância em sua composição.

Do combustível para veículos, passando pelas roupas, até o chiclete: o petróleo está presente em tudo! Fonte da imagem: Milada Vigerosa/Pexels 

Como podemos ver, o petróleo está presente nas nossas rotinas de muitas formas e com diversas utilidades. Um dos recursos minerais mais valiosos do mundo, o seu uso está além da produção de bens materiais, ditando muitos acontecimentos geopolíticos, sociais e econômicos ao redor do globo. Atualmente, a extração petrolífera é a base da economia de diversos países, como o Brasil, e também a razão de diversos conflitos armados, como a Guerra do Golfo (1990-1991) e o conflito envolvendo o grupo extremista autodenominado “Estado Islâmico”, na Síria e em Israel (2011-presente).

Existem vários locais de extração de petróleo pelo mundo, tanto em terra, quanto em ambientes aquáticos. Porém, grande parte dessas jazidas apresentam um potencial petrolífero mais elevado, como as situadas no Oriente Médio (Arábia Saudita, Irã e Iraque) e na América Latina (Venezuela e Brasil). Esses países possuem grande parte das reservas de petróleo existentes no mundo, despertando a cobiça de grandes nações como os Estados Unidos, que têm um histórico de guerras e embargos econômicos a diversos países.

A Arábia Saudita e o Petróleo.

Um dos casos é o da Venezuela, bastante difundido por telejornais e canais de notícias nos últimos anos. Esse país, que faz fronteira com o Brasil, tem como base de sua economia a exportação de petróleo, tendo como parceiros comerciais a Índia, a China e os EUA. Entretanto, desde o final de 2018, os governos chinês e estadunidense têm reduzido gradativamente suas importações da Venezuela , de modo a pressionar a renúncia do presidente atual, Nicolás Maduro (1962-). Com essa medida, vários barris de petróleo, que formam grande parte das receitas do país, ficam retidos, forçando a paralisação da economia venezuelana. Um dos resultados do imbróglio diplomático tem sido, desde então, uma grande crise econômica, com consequências para a população desse país. 

O Brasil é um outro país da América Latina com destaque na cena geopolítica, por ser um dos dez maiores produtores de petróleo no mundo. No Espírito Santo, por exemplo, fica uma das maiores plataformas produtoras de petróleo do país, responsável por até 9,4% da produção petrolífera em solo nacional. Para termos uma ideia, isso equivale a cerca de 333 mil barris por dia, quantidade superior à produção do Rio de Janeiro. Muita coisa, né? Mas além disso, o Espírito Santo também é referência na extração petrolífera numa camada presente no litoral brasileiro, e que pode ser vista em 

: a camada pré-sal.

Plataforma P-68, no Espírito Santo. Fonte da imagem: Petrobras/Divulgação 

Uma coisa que precisamos ter em vista aqui é que o petróleo extraído no Brasil tem origem há cerca de 120 milhões de anos, durante a fragmentação da Pangeia e formação do oceano Atlântico. Você pode conhecer mais dessa história em 

Esse evento provocou a formação de enormes camadas de sedimentos rochosos e sal no fundo do oceano. Todo o petróleo comumente comercializado no nosso país tem sido retirado de camadas de sal mais próximas da superfície do mar (camadas pós-sal). Porém, em 2006, a empresa estatal brasileira Petrobras anunciou a descoberta da existência de uma camada pré-sal em território nacional. Até aquele momento, outros bolsões de pré-sal já haviam sido detectados ao longo da América Latina e do outro lado do Atlântico, na costa da África.

A Petrobras é uma empresa brasileira estatal de economia mista, criada em 1953 no segundo governo do ex-presidente Getúlio Vargas (1882-1954). Atualmente opera em 14 países no segmento energético, nas áreas de exploração, passando pela produção, refino e comercialização, até o transporte de petróleo, gás natural e seus derivados. A descoberta da camada pré-sal em 2006 tornou a Petrobras líder mundial na produção de tecnologias para a exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas. Mas você sabia que uma das responsáveis ​​por esse achado foi também uma das pioneiras da geologia do petróleo no país?

Em 2005, a geóloga Sylvia Anjos (1957-) fazia parte da equipe que perfurou os primeiros poços no litoral de Santos (SP), junto com Marília Regali (1930-2018), primeira geóloga a trabalhar na Petrobras. Anjos é uma das pioneiras da geologia no Brasil, sendo também conhecida por ter sido a primeira mulher a trabalhar embarcada numa plataforma de petróleo

Sylvia Anjos, uma das pioneiras da geologia no Brasil e primeira mulher a trabalhar embarcada em uma plataforma de petróleo. Fonte da imagem: nossaenergia.petrobras.com.br 

Localizada na costa brasileira a mais ou menos 6km de profundidade, escavações maiores que atravessem uma extensa camada de sal são necessárias para acessar a camada pré-sal. Essa condição geológica foi ideal para a formação de um petróleo ainda mais valioso, de maior leveza e qualidade, tornando o pré-sal um grande diferencial econômico para o Brasil e para o Espírito Santo. 

As camadas até o pré-sal. Fonte da imagem: Petrobras 

A presença do pré-sal em mares capixabas tornou o estado ainda mais visado pelas indústrias petrolíferas. Boa parte da produção nacional de petróleo provém do Espírito Santo, onde há décadas a extração desse combustível fóssil representa uma das bases de sua economia, com o retorno dos royalties. Os royalties são de grande interesse aos estados: funcionam como um “imposto” pago pelas concessionárias aos governos para que possam realizar extrações em seus respectivos territórios. Essa quantia pode ser distribuída em áreas de interesse público e social, como saúde, educação ou infraestrutura, sendo também uma forma de compensação, já que essa atividade extrativista apresenta infinitos riscos para o meio ambiente.

A EXTRAÇÃO DO PETRÓLEO E SEUS RISCOS AO MEIO AMBIENTE

Vamos aqui fazer uma experiência muito simples, que ajudará a explicar o petróleo e seus impactos no meio ambiente. Primeiro, encha um recipiente transparente com água limpa e, depois, acrescente nele um pouco de óleo de cozinha. Sem mexer na água, perceba o que acontece. O óleo de cozinha a princípio irá se fragmentar, mas logo depois todas as suas partes se juntarão numa porção só, boiando sobre a superfície da água. Imagine agora essa experiência a nível macro como, por exemplo, o grande derrame de petróleo nos litorais do Nordeste e do Sudeste brasileiro (2019) ou o acidente da plataforma da BP Deepwater Horizon no Golfo do México (2010). Você consegue dimensionar os impactos à biota e aos biomas causados ​​por esses eventos?

A gravidade desses acontecimentos nos revela os perigos da extração petrolífera nos oceanos, já que, em contato com a água, o petróleo é capaz de provocar danos irreversíveis aos ambientes marinhos. Assim como o óleo de cozinha do nosso experimento, o petróleo e todos os seus derivados (como o gás de cozinha, a gasolina, o diesel, entre outros) são substâncias apolares, ou seja: são insolúveis em água. As suas moléculas não interagem com o H2O, fazendo com que ambos não se misturem. Além disso, também não é uma substância fácil de ser retirada dos locais contaminados. Por conta de sua alta toxicidade e viscosidade, em contato com ecossistemas e diversos animais (como tartarugas, peixes e aves) pode causar asfixia pelo bloqueio da oxigenação da água e contaminação por contato, ingestão e cheiro.

As consequências do derramamento de petróleo. Fonte da imagem: sapo.pt 

O petróleo é matéria-prima para alguns combustíveis utilizados em automóveis e fábricas, como a gasolina e o diesel. Com a industrialização e a alta frota de carros circulando todos os dias, toneladas de carbono são liberadas na atmosfera por meio da combustão desses combustíveis, que se transformam em CO2, o famoso dióxido de carbono. Como também pode ser visto em 

, esse gás é o responsável pelo efeito estufa.

O efeito estufa é essencial para toda a vida no planeta: sem ele, os dias seriam muito mais quentes e noites seriam geladas. Toda a radiação solar que chegasse à Terra voltaria ao espaço, tornando impossível a vida de diversas espécies, inclusive nós humanos. Contudo, níveis exacerbados de gás carbônico na atmosfera potencializam esse fenômeno, culminando no aquecimento global, que nada mais é do que a aceleração do processo de aquecimento do planeta. Por isso, muito tem se discutido nas últimas décadas sobre sustentabilidade.

Tanto que a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, estabeleceu 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (erradicar a pobreza extrema e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento). Os movimentos sustentáveis visam substituir os combustíveis fósseis por fontes alternativas de energia menos nocivas ao ambiente, direta e indiretamente, de modo a reduzir (ou frear) a emissão de gases nocivos na atmosfera e preservar biomas como florestas e oceanos. 

O efeito estufa.

Os maiores investimentos em tecnologias que utilizam fontes de energia renováveis (como a hídrica, eólica, solar e biomassa), além do uso de produtos compostos por matéria biodegradável e reutilizável (de menor ou zero impacto no meio ambiente), têm sido algumas das alternativas adotadas nos últimos anos, a nível macro e micro. Essas ações e novos hábitos são reflexos de que a sustentabilidade é uma responsabilidade que todos nós, individual e coletivamente, precisamos ter para garantirmos a qualidade de vida das próximas gerações.

0 comments

Comment
No comments avaliable.

Author

Info

Published in 16/06/2021

Updated in 25/09/2021

All events in the topic Fauna bichos do mar:


541000001 BCE (Circa)PALEOZOICOPALEOZOICO
16/06/1981 • 14:28:12 BCEPETRÓLEOPETRÓLEO
75000001 BCE (Circa)GONDWANA - VIDA MARINHA - CONEXÃO BRASIL-ANTÁRTIDA GONDWANA - VIDA MARINHA - CONEXÃO BRASIL-ANTÁRTIDA
56000001 BCE (Circa)EOCENOEOCENO
1986PROIBIÇÃO À CAÇA DAS BALEIASPROIBIÇÃO À CAÇA DAS BALEIAS
23000001 BCE (Circa)ABERTURA DA PASSAGEM DE DRAKE
1815RIO ITAPEMIRIM