EOCENO

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O BOTO-CINZA DO MUSES E OS NICHOS ECOLÓGICOS VAGOS DO EOCENO

A japonesa Junko Tabei (1939-2016) foi a primeira mulher a chegar no cume do Monte Evereste em 1975, época em que o montanhismo e o alpinismo eram esportes eminentemente masculinos. Considerada uma das maiores alpinistas do mundo, Tabei nasceu em Fukushima, cidade que, em 2011, foi atingida por um terremoto de 8,9 pontos na Escala Richter e que provocou um grave acidente nuclear. Em 1992, a esportista quebrou mais um recorde: foi a primeira mulher a escalar os sete cumes mais altos de cada continente: Monte Everest (Ásia); Aconcágua (América do Sul), Denali (América do Norte) Kilimanjaro (África), Monte Elbrus (Europa),  Monte Vinson (Antártida), Puncak Jaya (Australásia)!

Junko Tabei: a primeira mulher a escalar o Monte Evereste. 

Apesar de hoje comporem belíssimas paisagens e serem grandes desafios para esportistas como a japonesa Junko Tabei, as gigantes montanhas nem sempre ocuparam esse lugar. Elas surgiram em tempos remotos em uma  época geológica conhecida como Eoceno. Para entender como isso se deu, é preciso retornar a alguns milhões de anos, aos eventos geológicos e ecológicos que modificaram a Terra.

Como pode ser visto em 

, o movimento das placas tectônicas foi responsável pela formação dos continentes como conhecemos hoje e pela abertura de mares e oceanos, como você também pode conferir em 

No Eoceno, entre 56 e 34 milhões de anos atrás, essas movimentações causaram a formação de cordilheiras por meio de um movimento de soerguimento, que consistiu na elevação de uma ou mais placas tectônicas, resultante do choque entre elas. Essa elevação formava uma cadeia de montanhas principal, às vezes levando ao surgimento de cadeias de montanhas secundárias. Foi nesse momento que surgiram as cadeias de montanhas dos Alpes e dos Himalaias, na Laurásia, e da cordilheira dos Andes, em Gondwana.

A Cordilheira dos Andes, maior cadeia de montanhas do mundo, surgiu no Eoceno. Fonte da imagem: Wikipedia 

O Eoceno é uma das sete épocas do Cenozoico, era geológica que abrange o período entre 66 milhões de anos atrás até os dias atuais. Ela é dividida (do mais antigo ao mais recente) em Paleoceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno, Plioceno, Pleistoceno e Holoceno. No Paleoceno, os mamíferos ainda eram de pequeno porte e seus principais representantes eram os marsupiais, detalhados em 

Outro aspecto característico desta época é a existência de uma série de nichos ecológicos vagos, ainda decorrentes da extinção dos dinossauros não-avianos, como pode ser observado em 

Mas o que são esses tais “nichos”? Os nichos ecológicos representam os fatores ambientais e relações ecológicas que cada espécie mantém, sua função e o espaço que ela ocupa no meio ambiente. Por exemplo: com o desaparecimento dos dinossauros não-avianos no final do Cretáceo, foram deixadas lacunas que passaram então a ser ocupadas pelos mamíferos, como também é apresentado em 

Esse evento está intimamente relacionado à diversificação da fauna, já que no Eoceno um grande número de novas espécies surgiram, ocupando tanto o ambiente terrestre quanto o ambiente aquático. 

O Eoceno foi marcado pela diversificação da fauna. Fonte da imagem: Wikipedia 

Pela primeira vez na história do planeta existiam grupos de mamíferos adaptados aos rios, lagos, mares e oceanos. Também foi nesse período que mamíferos descendentes de animais terrestres retornaram à água alguns milhões de anos após a Extinção Cretáceo-Paleogeno, como o ancestral comum a todos os cetáceos viventes hoje. Esse grupo é atualmente representado pelas baleias, golfinhos e botos. O esqueleto de um deles, o boto-cinza, é uma das peças que compõem o acervo histórico-científico do Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo - MUSES O objeto mede cerca de [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS] e chegou à instituição por meio de uma [INSERIR INFORMAÇÕES ADICIONAIS].

OS CETÁCEOS: BALEIAS, GOLFINHOS E BOTOS

Como também está apresentado em 

, os cetáceos são mamíferos predominantemente aquáticos, tais como as baleias e os golfinhos. Por meio de análises moleculares do material genético desses animais e do estudo de fósseis, os pesquisadores concluíram que os seus parentes mais próximos são os artiodáctilos, grupo que inclui hipopótamos, vacas, porcos e camelos. Todos esses animais são mamíferos de ancestralidade terrestre.

As baleias são exemplos de mamíferos. Fonte da imagem: Wikipedia 

No caso das baleias e golfinhos, seus ancestrais provavelmente eram animais que viviam próximos da água e que, ao longo das adaptações, retornaram ao ambiente aquático. Em termos históricos, a mudança ocorrida com esses bichos foi até rápida, mas é sempre importante ter em mente que essa não foi uma transição linear, como se a baleia tivesse dormido em terra e acordado com suas estruturas “ajustadas” para viver na água! Ao longo de milhares de anos, muitas etapas de transição foram necessárias para se chegar aos animais existentes hoje, resultados do acúmulo de pequenas mudanças. Algumas das características que observamos hoje em baleias e golfinhos são evidências desse processo de evolução. Enquanto os membros posteriores (pernas) não eram tão funcionais dentro da água, tornaram-se vestigiais e desapareceram gradualmente, ao passo que a cauda ganhou maior relevância, servindo à função de locomoção e facilitando a propulsão. Mas, você já parou para pensar em como os mamíferos aquáticos fazem para respirar debaixo d’água se eles não possuem guelras? 

Existem diversas modificações no corpo dos cetáceos que revelam uma excelente adaptação aos ambientes em que vivem. Tais animais não conseguem respirar embaixo da água, por exemplo. Apesar de serem animais aquáticos, os cetáceos possuem pulmões ao invés de guelras como os peixes. Por esse motivo, suas narinas ficam no topo da cabeça, facilitando o acesso ao oxigênio quando sobem à superfície. Além disso, eles não possuem um bom olfato, já que ao longo da evolução perderam vários genes relacionados à capacidade de sentir cheiros. O problema da alimentação para um animal que não consegue respirar embaixo d’água foi resolvido com a separação entre o sistema respiratório e o sistema digestório, permitindo com que abram a boca embaixo d’água sem morrerem afogados.

Os cetáceos, apesar de serem animais aquáticos, possuem pulmões ao invés de guelras (assim como os demais peixes). Fonte da imagem: Pexels 

Um outro aspecto que se destaca neles é o corpo fusiforme, semelhante ao dos peixes. Esse recurso reduz bastante a resistência da água durante o movimento e os seus membros anteriores são nadadeiras com formato de remos, que permitem a locomoção de forma eficiente. 

Os cetáceos são os mamíferos mais bem adaptados à vida exclusivamente aquática. Animais que compartilham ancestrais comuns desde cerca de 50 milhões de anos atrás estão distribuídos ao longo de todo o globo terrestre e costumam viver toda a sua vida no ambiente aquático. A maioria habita os oceanos e mares, mas algumas espécies como os botos vivem em ambientes de água doce.

AS PARTICULARIDADES ADAPTATIVAS DOS ANIMAIS MAIS INTELIGENTES DO MUNDO

Você já viu um golfinho de perto ou por fotografia? Que parte do corpo desses animais é a mais marcante para você? 

Golfinhos e botos são animais que possuem características anatômicas marcantes: corpo hidrodinâmico, focinhos bem alongados, nadadeiras das costas curvas e evidentes, que estão presentes na porção mediana do corpo na maioria dessas espécies. O focinho, muito alongado, pode guardar um número variável de dentes, mas em geral são muitos, podendo chegar a até 120 pares, ou seja, quase 4 vezes mais que nós seres humanos. São animais carnívoros e sua dieta é variada, generalista e oportunista. Isso significa que essas espécies não selecionam o seu alimento, comendo o que estiver disponível no ambiente, como peixes, lulas, e crustáceos, de diferentes tamanhos e viventes em diferentes profundidades.

Outro aspecto marcante dos golfinhos e botos é a ecolocalização, um sistema de interação com o meio ambiente semelhante ao sistema  usado pelos morcegos. Veja mais sobre no evento  

A ecolocalização permite que esses cetáceos apresentem uma série de comportamentos complexos e variados voltados para a comunicação e a pesca, tais como a emissão de sinais acústicos variados como assobios, gritos e estalidos. Esses sinais também servem para interação social e navegação. Um dos órgãos responsáveis pelo seu funcionamento chama-se "melão" e está presente na parte frontal da cabeça, o que explica a grande protuberância nessa região.

O boto utiliza a ecolocalização para interagir e navegar no ambiente. Fonte da imagem: Wikipedia 

Esses animais estão inclusos na subordem Odontoceti, correspondente aos cetáceos com dentes. Dela, as espécies se dividem em seis famílias:

  • Delphinidae: golfinhos, orcas e baleias-piloto;
  • Phocoenidae: toninhas e marsopas;
  • Iniidae: botos-cor-de-rosa e demais golfinhos fluviais americanos;
  • Pontoporiidae: toninhas e botos-do-rio-da-prata;
  • Platanistidae: golfinho-de-rio-do-sul-da-ásia e demais golfinhos fluviais asiáticos;
  • Lipotidae: baijis ou boto-do-rio-yang-tsé;
  • Monodontidae: narvais e belugas.

Os golfinhos são facilmente encontrados em regiões marinhas, enquanto que os botos (também conhecidos como golfinhos fluviais) vivem em regiões específicas de água doce e/ou salobra. Estes são divididos em duas superfamílias, Platanistoidea e Inioidea, que por sua vez abrigam cinco diferentes espécies de botos, dentre as quais estão os golfinhos indianos, os golfinhos amazônicos e os golfinhos salgados. A primeira vez que a espécie do boto amazônico Inia geoffrensis (ou boto-cor-de-rosa) foi descrita na história foi em 1817, pelo zoólogo e anatomista francês Henri Marie Ducrotay de Blainville (1777-1850). Inclusive, você sabia que foi de Blainville que anos depois, em 1822, cunhou o termo “paleontologia” para se referir aos estudos da vida em tempos passados?

Dentre os registros ósseos presentes no MUSES, temos o boto-cinza (Sotalia guianensis), que ocorre em regiões tropicais da América Latina, de Santa Catarina, Sul do Brasil, à Honduras, na América Central. São animais carnívoros e alimentam-se de diferentes espécies de peixes e moluscos, habitando em regiões de baías e estuários.

Esqueleto de boto-cinza exposto no Muses. 

Os botos-cinzas podem chegar a medir 2,2m de comprimento e pesar 121kg, vivendo em média 35 anos. Esse animal já foi considerado uma subespécie marinha do tucuxi, o boto-preto (Sotalia fluviatilis), que também possui hábitos de vida fluviais. Porém, análises realizadas por pesquisadores brasileiros em 2002 evidenciaram diferenças marcantes no tamanho e no formato do crânio entre os dois animais, confirmando que se tratam mesmo de espécies diferentes.

A ATIVIDADE PESQUEIRA: UMA GRANDE AMEAÇA À VIDA DOS BOTOS-CINZA

O boto-cinza é, atualmente, uma espécie ameaçada de extinção. Na verdade, como é apresentado no evento 

, essa é a realidade de muitos cetáceos, vítimas das ações humanas de caça e pesca predatória.

Por seu hábito de vida costeiro, esses animais são constantemente visados ​​pela atividade pesqueira, já que podem ser atropelados por embarcações, serem capturados ou ficarem presos acidentalmente em redes de pesca. A pesca predatória ilegal de peixes é outra grande ameaça para o boto-cinza, pois também geram a diminuição desse alimento em seu habitat. Essas ações fizeram com que essa espécie fosse avaliada como “Quase Ameaçada”, de acordo com dados da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), além de constar como “Vulnerável” na Lista da Fauna Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade,  publicado em 2018.

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Published in 22/06/2021

Updated in 25/09/2021

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