“Baile” - Copy
Baile foi um trabalho produzido durante uma residência artística de um mês, realizada no Vilarejo de Cemitério do Peixe – um lugar quase desconhecido no interior de Minas Gerais, Brasil. O local abriga apenas três habitantes, numerosas casinhas brancas e vazias, uma igreja e um antigo cemitério - ato que muda completamente durante cinco dias por ano com a celebração católica do Jubileu, uma festa religiosa destinada às Almas e a São Miguel Arcanjo. Neste período, pessoas de diversos lugares da região se deslocam em procissão, ocupando todo o vilarejo. Segundo os moradores mais antigos do entorno, o Peixe é um local sagrado, pois as almas dos que foram enterrados ali são capazes de realizar milagres. Fala-se ainda, que, antes de haver um Cemitério, os corpos dos escravos eram enterrados na beira do Rio Paraúna. Onde, de quando em quando, é possível escutar o som de tambores e cantos trazidos pelo vento.
Sobre a experiência, a artista comenta: “Durante 10 dias seguidos eu fui até o Rio Paraúna acompanhada por mais uma pessoa, e levando comigo apenas a câmera e o tripé. Ao chegar, posicionava o equipamento sempre no mesmo local, dentro do rio e próximo a uma pedra para tentar fazer o mesmo enquadramento. Fiz isso em diferentes horários, desde o amanhecer até a caída da noite. Ao artista-residente-acompanhante cabia a função de estar ali, e ser o meu observador atrás da câmera (que às vezes necessitava de um segundo play). Também era sugerido escrever qualquer coisa que viesse à sua mente. E então, por cerca de uma hora eu me movimentava livremente: chacoalhando o corpo, caminhava e corria sobre as águas rasas do rio, perseguindo um estado psico-físico bem particular. Algo que pudesse se aproximar de uma espécie de transe lúcido. O meu objetivo: dar passagem à energia (ou espíritos) daqueles que foram enterrados nas margens".
Leia mais sobre a obra Baile no site da artista.
Rubiane Maia (Caratinga, MG, 1979)
Rubiane Maia é artista visual e vive entre Folkestone, Reino Unido e Vitória, ES, Brasil. É formada em Artes Visuais e mestre em Psicologia Institucional pela Universidade Federal do Espírito Santo. Sua prática artística é um híbrido entre a performance, o vídeo, a instalação e a escrita. Ocasionalmente, flerta com o desenho, a pintura e a colagem. Em 2015 participou da exposição 'Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI', no SESC Pompéia, São Paulo, apresentando a performance de longa duração ‘O Jardim’ por dois meses consecutivos. No mesmo ano, lançou o seu primeiro curta-metragem ‘EVO' em parceria com a realizadora Renata Ferraz, que estreou no 26o Festival Internacional de São Paulo e no 22o Festival de Cinema de Vitória. Em 2016, desenvolveu o projeto 'Preparação para Exercício Aéreo, o Deserto e a Montanha', viajando por paisagens de altitude, tais como: Uyuni (Bolívia), Pico da Bandeira (Espírito Santo / Minas Gerais, BRA) e Monte Roraima (Roraima, BRA / Santa Helena de Uyarén, VEN). E na sequência, produziu o seu segundo curta-metragem ‘ÁDITO’. Desde 2018, vem desenvolvendo um ‘Livro- Performance’ composto por uma série de ações organizadas em capítulos e desenvolvidas especificamente em resposta a textos autobiográficos influenciados por experiências de racismo e misoginia. Entre 2020-21 integrou o coletivo 'Speculative Landscapes’, participando na elaboração de questionamentos sistêmicos sobre o que mais as instituições podem ser, quando não moldadas por histórias de violência, segmentação e extração dos territórios. Atualmente, está trabalhando no projeto DIVISA a partir de uma viagem de pesquisa e imersão entre a divisa do Espírito Santo e Minas Gerais. O projeto poderá ser acessado através de um website que será lançado em setembro de 2022.
Conheça o site da artista.
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