Descoberta de Cabo Verde

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A data da descoberta do arquipélago é disputada tal como o nome do navegador que ali terá chegado primeiro. Diogo Gomes, Alvise Cadamosto ou António da Noli são apontados como possíveis descobridores, todos ao serviço do Infante D. Henrique.

Informações adicionais:

Tradicionalmente o estudo da história do arquipélago de Cabo Verde era realizado no âmbito de obras gerais sobre o Império Português, ou no âmbito da atuação de determinada congregação religiosa, muitas vezes à margem do estudo da costa da Guiné. As mais antigas descrições de caráter histórico-geográfico-etnográfico centram-se na região dos rios da Guiné, referindo as ilhas de Cabo Verde de modo sintético e marginal, na medida em que se relacionavam com aquela costa, como por exemplo as obras:

- André Álvares de Almada, Tratado breve dos rios da Guiné do Cabo Verde (...), 1594;

- André Donelha, Descrição da Serra Leoa e dos rios da Guiné do Cabo Verde, 1625; e

- Francisco Lemos Coelho da Costa da Guiné e Situação de todos os Portos e Rios dela (...), 1684.

Apenas no final do século XIX é que surge uma primeira grande síntese sobre a totalidade da história de Cabo Verde, os Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, de autoria de Cristiano José de Sena Barcelos (Lisboa, Academia Real das Ciências de Lisboa, 1899).


Arquipélago de Cabo Verde.

A questão da Descoberta

A questão da autoria da descoberta de Cabo Verde é objeto de discussão historiográfica. No contexto dos Descobrimentos portugueses, admite-se que o arquipélago tenha sido alcançado a 1 de Maio de 1460 por Diogo Gomes, a serviço do Infante D. Henrique. Outros autores atribuem o comando da primeira expedição ao veneziano Alvise Cadamosto, em 1456, ano da morte do Infante. Recentemente, entretanto, tem-se afirmado a prioridade do genovês António da Noli — ainda em vida do Infante —, com base na Carta-régia de 19 de setembro de 1462, que a refere expressamente:

"D. Affonso e (…) A quantos esta carta virem fazemos saber que o Infante D. Fernando, Duque de Vizeu e de Beja, Senhor da Covilhã e de Moura e, meu mui amado e presado irmão nos enviou mostrar uma carta assinada por nós e sellada de nosso sello pendente feita em Cintra 12 de Novembro de 1457, porque lhe fizemos doação para elle ou por seu mandado fossem achadas assim e tão cumpridamente como a nós podessem pertencer, e com toda a jurisdição cível, crime, reservando para nós feitos crimes, alçada nos casos que caiba morte ou talhamento de membro (…) segundo mais compridamente em a dita carta é contheudo, pedindo nos o dito infante que, porquanto foram achadas 12 ilhas, a saber: cinco por António da Noli, em vida do Infante D. Henrique, meu tio, que Deus haja, que se chamam: jlha de Santiago e a jhla de Sam Filipe, e as jlhas das Mayas e a jlha das Mayas e a jlha de S. Christovam e a jlha do Sall que são nas partes da Guiná (…).

Em finais de 1461 ou inícios de 1462 em nova viagem, o descobridor Diogo Afonso teria avistado as ilhas da Brava, São Nicolau, Santa Luzia, Santo Antão, São Vicente e os ilhéus Raso e Branco. De acordo com as narrativas coevas, essas ilhas encontravam-se desertas, sem qualquer indício de presença humana, como referido por Cadamosto:

"…não se encontrando nelas senão pombos e aves de estranhas sortes, e grande pescaria de peixe." (Alvise Cadamosto. Relação das Viagens à costa ocidental da África.)

João de Barros, assim referiu a descoberta e o seu nome:

"Neste mesmo tempo (...) se descobriram as ilhas a que agora chamamos de Cabo Verde (...) e do dia que partiram da cidade de Lisboa a dezasseis dias foram ter à ilha de maio à qual puseram este nome por a viram em tal dia. E (...) descobriram as outras (...) que por todas são dez, chamadas por comum nome ilhas de Cabo Verde por estarem ao poente dele por distância de cem léguas." (João de Barros. Décadas da Ásia.)

Valentim Fernandes confirma que as ilhas se encontravam desabitadas:

"(...) Foram a uma e lançaram gente fora para verem se havia povoação e não acharam. Foram à segunda, não acharam rasto de gente (...). As outras caravelas viram as outras ilhas porém nenhuma delas povoada, senão grande multidão de aves e grande pescaria (...)." (Valentim Fernandes. Manuscrito.)

O século XVIII

Corsários franceses sob o comando de Jacques Cassard assaltam e destroem grande parte da Ribeira Grande (1712), causando a transferência da capital para a cidade da Praia (1769).

A extração e comércio da urzela são declarados monopólio da Coroa Portuguesa (1732), reanimando-se essa tradicional atividade extrativa, que perdura até à década de 1840.

A Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão tem os seus privilégios ampliados com o exclusivo do comércio no arquipélago de Cabo Verde e na Guiné (1757). Com a extinção desta (1778), será criada a Companhia de Comércio da Costa de África, que atuou entre 1780 e 1786.

A partir de 1794 intensifica-se o povoamento da ilha de São Vicente, com a chegada de casais de madeirenses e outros.



Mapa francês de Cabo Verde (1746).

A luta pela independência

A partir da década de 1950, com o surgimento dos movimentos de independência dos povos africanos, a colónia portuguesa de Cabo Verde, vinculou-se à luta pela libertação da Guiné Portuguesa (actual Guiné-Bissau).

Em 1956, o intelectual de Bafatá, Amílcar Cabral fundou em Bissau o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Exilado em Conacri, ali criou uma delegação e sede do partido. Cabral foi assassinado em 1973.

Cabo Verde ganhou sua independência como consequência da Revolução dos Cravos, em 1974, que derrubou à ditadura salazarista que governava desde 1926 e dispôs a independência pacífica das colônias. A República de Cabo Verde foi declarada em 5 de julho de 1975, depois de que se celebrassem eleições constituintes nas quais o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) era o único partido legal.

Depois das eleições, Pedro Pires foi declarado Premiê e Aristides Pereira foi eleito presidente pela nova Assembleia Nacional Popular. Ainda que inicialmente tenha prometido iniciar um regime democrático, a repressão aos opositores aumentou no final dos anos 1970 e o país continuou a ser um estado socialista na década seguinte até a queda do comunismo entre 1989 e 1991. No entanto, o histórico de respeito aos direitos humanos em Cabo Verde era relativamente melhor que em outros países do Bloco Socialista e a participação cidadã no governo era maior devido aos comitês locais. Cabo Verde é um dos pouco países no mundo que nunca teve a pena de morte como condenação em seu código penal, ainda que vários partidos políticos de oposição tiveram que ser fundadas no exílio, como a União Caboverdiana Independente e Democrática (em 1975) que foi excluída das negociações de independência, e teve que ser refundada em Portugal em 1981.

Amílcar Cabral, num selo da ex-RDA.
SIC | Grande Viagem a Cabo Verde (23/04/1998)

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Published in 11/11/2020

Updated in 19/02/2021

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