Comunicação total
O descompasso entre a tradição oralista daquele momento (final da década de oitenta) e a visão de ensino-aprendizagem que a escola de surdos decidiu seguir, desencadeou uma busca por estudos e reflexões que respaldassem o novo caminho. Assim, em meados de 1994, após cursos, estudos e longas discussões, a educação redirecionou sua proposta para a Comunicação Total, abordagem educacional para surdos criada no final da década de oitenta nos Estados Unidos, na tentativa de enfrentar o fracasso do oralismo manifesto
no precário desempenho acadêmico dos estudantes em várias partes do mundo (Lane, 1992; Moura, 2000).
Nessa abordagem, o professor pode resolver a todos os meios de comunicação disponíveis para interagir com os alunos: língua de alfabeto, alfabeto digital, escrita, fala, pantomima, desenhos etc. uso de sinais na estrutura da língua oral com acréscimos de morfemas –, a língua de sinais pôde reingressar na Educação de Surdos. A Comunicação Total, entretanto, ainda é uma resposta metodológica centrada na língua oral. A partir dessa criação de recurso, a língua de sinais passa a ser o ensino maior, sendo utilizada como instrumento para aquisição da língua principal, o que continua mudanças de mudança de status (Favorito, 2006). Como bem metaforiza Lane
(1992, p.126):
“O professor ao gesticular, ao mesmo tempo em que fala, tem a ilusão de que se faz compreender, tal como um piloto num simulador, cuja percepção lhe diz que está a aterrar um avião apesar de, na realidade, quando visto do alto de fora, esta ainda a voar sem rumo.”
Na verdade, na época da criação da Comunicação Total, nos Estados Unidos, a validação das línguas de sinais na esfera da linguística teórica já havia se iniciado. O fracasso dos resultados pedagógicos obtidos pelo oralismo, no entanto, não foi suficiente para se repensar a educação de surdos pelo menos até a década de sessenta, quando surge, nos Estados Unidos, o primeiro estudo sobre língua de sinais realizado pelo linguista americano William Stokoe, da Gallaudet University. Nessa pesquisa pioneira, Stokoe investigou os
componentes formacionais dos sinais da American Sign Language (ASL), provando que essa língua tinha o mesmo valor linguístico das línguas orais e cumpria as mesmas funções de qualquer sistema linguístico(Sousa, 1998). Apesar da relevância de seu trabalho – que deflagrou um crescente movimento de pesquisas em vários países acerca de diferentes línguas de sinais, além de investigações nos campos da antropologia, da aquisição da linguagem e aprendizagem voltadas para surdos – suas ideias foram muito contestadas na época, tanto por seus colegas da universidade, como pela sociedade americana em geral. O argumento de que a língua de sinais era um obstáculo para a aprendizagem da língua oral prevalecia. Somente no início da década de oitenta, seu trabalho passa a ser reconhecido e difundido (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2007, p. 23-24).
SÃO BERNARDO DO CAMPO. Secretaria da Educação e Cultura. Departamento de Ações Educacionais. Proposta Curricular: Educação Especial. Volume II, Caderno 5. São Bernardo do Campo, SP, 2007.
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