PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ

1961View on timeline

O PICO DA BANDEIRA E A FUNDAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ

Você sabia que até a década de 1960 o Pico da Bandeira, localizado na divisa dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais, era considerado o ponto mais alto do Brasil?

Hoje sabe-se que o Pico da Neblina, na Serra do Imeri (AM), é o ponto mais alto do país, com seus 2.995m de altitude. Contudo, ele só foi alcançado em 1965, numa expedição do Exército Brasileiro em que estava presente o topógrafo Ambrósio Miranda (1900-1990). Uma curiosidade sobre o evento é que, durante a expedição, os cálculos de Miranda acerca da medida da montanha chegaram a 3.014m, número que foi reduzido até o valor atual com a melhoria dos instrumentos de medição.

O segundo pico mais alto em território nacional é o 31 de Março, que rodeia o Pico da Neblina e possui 2.974,18m de altitude - a primeira escalada à formação também foi no ano de 1965. E o terceiro encontra-se nas terras do sul capixaba: o Pico da Bandeira, com seus 2.892m de altitude. Hoje a região em que está localizado faz parte do Parque Nacional do Caparaó.

Pico da Neblina, o ponto mais alto do país. Fonte da imagem: Wikipedia/Força Aérea do Brasil 

Na época da primeira medição do Pico da Bandeira - realizada em 1911 pelo topógrafo Álvaro da Silveira, do Serviço Geográfico de Minas Gerais -, o Parque Nacional do Caparaó não existia. A região já era considerada um destino turístico muito procurado, não só pela caminhada até a alta montanha, mas também pelas particularidades de seu relevo e topografia, que formam cachoeiras, piscinas naturais e trilhas. Só em 1961, com o Decreto 50.646/61, que o Parque foi instituído, visando a proteção de seus maciços de grande altitude e bioma remanescente de Mata Atlântica. Até hoje turistas vêm de todos os cantos do Brasil e do mundo para acampar, fotografar, fazer piqueniques ou expedições noturnas pela região, entre outras atividades.

Também conhecido como Parna Caparaó, o Parque Nacional é atualmente administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Ainda que cerca de 80% de sua área total (quase 32 mil hectares) esteja no Espírito Santo, o Parque também se estende por Minas Gerais. Além disso, a região abriga em seu território cinco dos dez picos mais altos do Brasil: Pico da Bandeira (2.892m), Pico do Cruzeiro (2.852m), Pico do Calçado (2.849m), Pico do Calçado Mirim (2.818m) e o Pico do Cristal (2.770m), sendo que este último localiza-se exclusivamente em terras mineiras. Graças às elevadas altitudes, seu clima é marcado por temperaturas amenas durante boa parte do ano, variando entre 19 a 22ºC, com verão chuvoso e inverno seco. Dependendo da época pode-se presenciar a formação de geadas e crostas de gelo.

O Parque também acomoda nascentes de três bacias hidrográficas essenciais para os capixabas: Rio Itabapoana, Rio Doce e o Rio Itapemirim, que você pode conhecer no evento 

Rio Doce, uma das bacias hidrográficas essenciais para os capixabas. Fonte da imagem: Wikipedia/Eurico Zimbres 

Além disso, a fauna existente no local conta com 350 espécies de aves, 67 de mamíferos, 64 de anfíbios e répteis e mais de 50 mil de insetos!

O decreto que oficializou a criação do parque teve papel fundamental para a proteção da região, que se mantém até os dias atuais. Décadas mais tarde, em 1991, o Parque Nacional do Caparaó compôs a Reserva de Biosfera da Mata Atlântica, demarcado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Hoje, toda a região tem grande importância na conservação da biodiversidade capixaba, abrigando diversas amostras de campos de altitude, amostras geológicas, nascentes e diversas espécies endêmicas, muitas delas ameaçadas de extinção.

DO CAFÉ AO ACAIACÁ DO MUSES: 

AS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS DO SUL CAPIXABA

Situado na região Sul do Espírito Santo, o Parque Nacional do Caparaó esteve inserido num contexto de desenvolvimento econômico do estado ao longo dos últimos séculos. Como pode ser visto no evento 

, a região tornou-se foco do cultivo do café após o declínio da produção de cana-de-açúcar e do fim do ciclo do ouro em Minas Gerais, ainda no século XVIII. Tais eventos atraíram imigrantes italianos, suíços, alemães, espanhóis e portugueses, como você pode observar no evento 

Entretanto, toda essa atividade levou ao esgotamento das terras, tornando-as improdutivas.

Com a perda do valor econômico do café, a partir de meados do século XX o Espírito Santo presenciou um aumento no número de camponeses que migraram do interior para os grandes centros urbanos, como está em destaque no evento 

Ao decorrer do século XX, a produção cafeeira foi se distribuindo para outros municípios, abrindo espaço para outras atividades, tais como a pecuária leiteira, que passou a predominar no Sul capixaba.

O século XX também foi marcado pela implementação da The Leopoldine Railway, famosa estrada de ferro que facilitou o escoamento de produtos agrícolas e madeiras nobres para outros estados brasileiros. Em função desse acontecimento, o interior do Espírito Santo também foi impactado por um intenso processo de industrialização. Com essa nova forma de transporte comercial, a exploração da vegetação local tomou grandes proporções, provocando o desmatamento de uma vasta área florestal. Além do trânsito madeireiro fruto do extrativismo, os trens que carregavam as mercadorias faziam uso de carvão vegetal, proveniente de árvores da vegetação local.

Mapa da Leopoldina Railway 

Certamente a criação do Parque Nacional do Caparaó por iniciativa do Estado brasileiro resguardou biomas que, ao longo da história recente, estiveram sob a iminência do desaparecimento em nome do progresso econômico. Mas, registros históricos mostram que, em tempos remotos, povos originários das etnias Kaingang (ou "Botocudos", apresentados no evento 

, Puri, Tapuia e até mesmo Tupi, habitavam a mata tropical da região. Esse fato reforça a resistência dessas populações aos desmandos da colonização portuguesa, sendo fundamentais na preservação da Mata Atlântica capixaba.

Dentre as vegetações de Mata Atlântica presentes no Caparaó estão as florestas ombrófilas, os campos de altitude (ou campos montanos), as áreas de transição natural e as áreas alteradas. Também é possível encontrar diversas espécies de flores e árvores, muitas ainda não catalogadas pela ciência. Das mais populares que habitam o território, temos angicos, quaresmeiras, palmeiras, jequitibás e o acaiacá (Cedrela fissilis). O Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses) tem hoje em seu acervo histórico-científico folhas do acaiacá. Ao compor a coleção destinada à flora brasileira, a peça ajuda na compreensão dessa vegetação característica da região.

Folha de Acaiacá presente no acervo do Muses. 
Detalhe de folha de Acaiacá presente no acervo do Muses. 

O nome “acaiacá” possui origem no tupi-guarani e significa “árvore piramidal", referência ao seu tamanho, que pode chegar a 30m de altura e medir entre 40 e 80cm de diâmetro, com folhagens que podem variar de 25 a 45cm. Popularmente conhecida como cedro ou cedro-rosa, essa é uma árvore nativa do Brasil que é utilizada em diversas atividades, desde a construção civil, decoração, mobiliário, instrumentos musicais, até na medicina, no combate à febre, feridas e úlceras. Esse uso variado faz com que a espécie seja muito explorada, conduzindo-a a um cenário de quase extinção, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

Árvore do Acaiacá. Fonte da imagem: Wikipedia/Mauroguanandi 

Assim como o pau-brasil, que tem destaque no evento 

, a realidade do cedro é semelhante a de outras espécies da Mata Atlântica atingidas pela devastação em função da ocupação humana e do progresso econômico. Com o uso da terra para plantio, criação de gado, extração de madeira e o aumento das cidades, ao longo dos séculos essa floresta tropical chegou à beira da extinção. Além de regenerar esse bioma, o Parque Nacional do Caparaó revela a importância de reforçar e ampliar o debate acerca da consciência socioambiental para outras áreas de preservação espalhadas pelo Brasil.

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Published in 27/07/2021

Updated in 24/09/2021

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