UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NO ESPÍRITO SANTO

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AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NO ESPÍRITO SANTO E A LUTA DOS AMBIENTALISTAS NO BRASIL

Maria do Espírito Santo da Silva (1960-2011), José Cláudio Roberto da Silva (1957-2011), Paulo Paulino Guajajara (1993-2019), Dorothy Mae Stang (1931-2005), Chico Mendes (1944-1988), Paulo César Vinha (*-1993) - todos esses nomes representam a resistência e a luta pela preservação do meio ambiente no Brasil nas últimas décadas. Além disso, cada um deles nos remete a uma infeliz estatística que a nação carrega: o Brasil é o 3º país mais letal do mundo para defensores ambientais e dos direitos humanos.

Dorothy Stang (a Irmã Dorothy) assassinada em 2005, no Estado do Pará. Fonte da Imagem: Carlos Silva/Folha de São Paulo  

Esse dado é o resultado do relatório Defender o amanhã: A crise climática e as ameaças às pessoas defensoras da Terra e do Meio Ambiente, produzido em 2019 pela ONG Global Witness e divulgado em 2020. Só em 2019, 212 líderes ambientais foram assassinados em todo o mundo - 24 deles no Brasil. Uma das responsáveis ​​pela pesquisa, a ativista Rachel Cox, afirmou em reportagem à CNN Brasil que “o agronegócio, o setor de petróleo e gás e a mineração têm sido constantemente os maiores impulsionadores dos métodos contra os defensores do meio ambiente e da terra - e são também as indústrias que nos empurram ainda mais para uma mudança climática desenfreada através do desmatamento e do aumento das transferências de carbono. Muitos dos piores abusos de direitos humanos e ambientais são causados ​​pela exploração de recursos naturais e pela corrupção no sistema político e econômico global. Os defensores do meio ambiente e da terra são as pessoas que se posicionam contra isso ”. 

Criado em 1994, o Parque Estadual Paulo César Vinha carrega o nome do biólogo e militante ativista que, entre as décadas de 1980 e 1990, liderou campanhas de preservação das áreas de restinga em Guarapari (ES), ameaçadas pela ação extrativista de empresários do setor da construção civil. Em 1993, Vinha foi pego numa emboscada por pessoas que retiravam areia ilegalmente no Parque Estadual de Setiba e foi assassinado. Desde então, a sua luta pela preservação do meio ambiente tem sido referência para pesquisadores e ambientalistas no estabelecimento de medidas e políticas públicas que visam a proteção de biomas do Espírito Santo, tais como a Mata Atlântica.

Parque Estadual Paulo César Vinha. Fonte da imagem: Terence J. Nascentes/Iema 

A criação dessas Unidades de Conservação da Natureza tem garantido a sobrevivência dos 7% de Mata Atlântica ainda restantes em território capixaba.  No Espírito Santo existem várias delas que podem ser classificadas como:  Proteção integral e Uso sustentável.

As unidades de Proteção integral são aquelas que permitem o uso indireto dos recursos naturais, sem envolver coleta, consumo, dano ou destruição. Já as unidades de Uso sustentável permitem o uso direto dos recursos naturais, envolvendo coleta e uso, comercial ou não, mas com manejo equilibrado, garantindo a manutenção dos processos ecológicos. 

Além do Parque Estadual Paulo César Vinha, o estado conta também com mais oito unidades de Proteção integral: Parque Estadual de Itaúnas, Parque Estadual da Cachoeira da Fumaça, Parque Estadual da Pedra Azul, Parque Estadual de Forno Grande, Parque Estadual Mata das Flores, Reserva Biológica de Duas Bocas, Monumento Natural Frade e a Freira,  Monumento Natural Serra das Torres e as RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural). 

Parque Estadual da Cachoeira da Fumaça, em Alegre. Fonte da imagem: Wikipedia 

Dentre as áreas de uso sustentável estão: a Área de Proteção Ambiental de Conceição da Barra, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Concha D'Ostra, Área de Proteção Ambiental Goiapaba-Açu, Área de Proteção Ambiental Guanandy, Área de Proteção Ambiental Pedra do Elefante, Área de Proteção Ambiental Praia Mole, Área de Relevante Interesse Ecológico Morro da Vargem e Área de Proteção Ambiental Setiba. 

Para saber mais sobre as Unidades de conservação, acesse o site do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - IEMA.

A MATA ATLÂNTICA NO ESPÍRITO SANTO E OS GRANITOS DE PEDRA AZUL E DE FORNO GRANDE

Como pode ser observado nos eventos 

, a devastação e o desmatamento da Mata Atlântica têm ocorrido ao longo da história brasileira como consequência de diversos fatores, dentre os quais estão o cultivo da cana-de-açúcar e do café e a expansão das grandes cidades com a urbanização. Para se ter uma ideia, hoje este bioma ocupa uma área total de 1.300.000 km² e é encontrado em 17 estados - do Piauí até o Rio Grande do Sul -, mas estima-se que cerca de 93% dessa floresta tropical desapareceu desde 1500. O Espírito Santo, por exemplo, possui atualmente uma área de Mata Atlântica de cerca de 45.597 km² - mas séculos atrás seu território era 100% ocupado pelo bioma.

Desmatamento de Mata Atlântica cresce mais de 400% no ES  

Esse é um cenário que se agrava até os dias de hoje: um levantamento de 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Fundação SOS Mata Atlântica, apontou que o Espírito Santo foi o estado que apresentou o maior índice de desmatamento do bioma, sendo responsável pela destruição de 19 hectares de florestas. Isso corresponde a uma área de quase 20 campos de futebol destruídos pela ação humana! Com isso, são milhares de mamíferos, pássaros, répteis, anfíbios, peixes e vegetais seriamente ameaçados, incluindo muitas espécies endêmicas, ou seja, que só existem nesta região. Por essa razão, as iniciativas de preservação são cruciais pois têm o intuito de preservar o pouco de Mata Atlântica que ainda resta, além de garantir a vida de diversas espécies da flora e da fauna específicas desse bioma. 

Duas importantes áreas de preservação ambiental localizadas no Espírito Santo se destacam pelas suas formações geológicas: o Parque Estadual da Pedra Azul e o Parque Estadual de Forno Grande. Apesar da distância de quase 50 km que os separam, tais parques possuem formações rochosas tão altas que, estando no mirante de um, é possível avistar o outro, formando um importante corredor ecológico (faixa de vegetação que liga fragmentos florestais ou unidades de conservação separados pela atividade humana, permitindo o deslocamento da fauna e flora entre as áreas isoladas, a troca genética entre as espécies e a dispersão de sementes).

Parque Estadual Forno Grande, em Castelo. Fonte da Imagem Pale Zuppani 

Análises encontradas em fragmentos de granito, tanto nas formações geológicas do Parque de Forno Grande quanto no Parque da Pedra Azul, indicam que ambos levaram milhões de anos até chegarem à configuração dos dias atuais. Supõe-se que sua origem remete aos períodos Cambriano e Ordoviciano (cerca de 520 a 480 milhões de anos atrás), já que o granito é uma rocha magmática (ou ígnea) formada há milhões de anos, como pode ser observado no evento 

O Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (Muses) apresenta em sua coleção de geologia as peças que foram utilizadas para a realização desta pesquisa, coletadas pelo curador de Geologia da instituição, Rodson Abreu.

 

Granito de Forno Grande pertencente ao acervo do Muses. 
Detalhe do Granito de Forno Grande pertencente ao acervo do Muses. 
Detalhe do Granito de Pedra Azul pertencente ao acervo do Muses. 
Detalhe do Granito de Pedra Azul pertencente ao acervo do Muses. 

 

AS FORMAÇÕES GEOLÓGICAS DOS PARQUES DE PRESERVAÇÃO DE FORNO GRANDE E PEDRA AZUL

O Parque Estadual de Forno Grande foi criado na década de 1960, ainda como uma Reserva Florestal. Nos anos 1980, toda a extensão de sua área foi cercada, até que, em 1998, a região recebeu o título de Parque Estadual. Isso se deu graças à Lei 7.528, que oficializou uma área de preservação da fauna e da flora locais. Nos anos seguintes, a visitação descontrolada gerou impactos ambientais negativos na região, fazendo com que o Parque fosse fechado para visitação por 20 anos, até ser reaberto em 2019. 

A região ocupa uma área aproximada de 913 hectares, situada no município de Castelo, no Sul capixaba. Hoje administrado pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), o Parque abriga os biomas da Mata Atlântica e da floresta ombrófila (tipo de vegetação também conhecida como floresta pluvial). Em toda a sua extensão vivem cerca de 130 espécies de aves, 20 de anfíbios, 22 de répteis, 30 mil de insetos - sendo 31 espécies de borboletas. Alguns desses estão sob risco de extinção, como a onça-parda e a onça suçuarana, a jaguatirica, o gavião-pega-macaco, o gato-mourisco e o macaco mono-carvoeiro. Além disso, o Parque preserva o segundo maior ponto culminante do Espírito Santo, o Pico do Forno Grande, que possui aproximadamente 2.040m de altura e 730 hectares de área ocupada. Como é destacado no evento 

, só o Pico da Bandeira, que fica na divisa do estado com Minas Gerais, consegue ser mais alto, com seus 2.892m de altura.

Pico da Bandeira, o pico culminante mais alto do estado e o terceiro mais alto do país. Fonte da imagem: Wikipedia 

O Pico do Forno Grande abriga a maior floresta de altitude do mundo, com cerca de 300m². Seu formato deu origem ao nome do parque, em função da influência cultural dos imigrantes italianos que, na época, utilizavam fornos para assar pães com formas parecidas com a montanha.

Outra região marcada pela peculiaridade de suas formações geológicas é o Parque Estadual da Pedra Azul, localizado no município de Domingos Martins. Essa área foi criada em 1991 com o objetivo de proteger o patrimônio natural da região, em especial a Pedra Azul. Essa formação rochosa de mais de 1.800m de altura recebe esse nome por conta da sua coloração azulada, dependendo da incidência de luz solar. Em dias específicos, a pedra pode assumir tonalidades em verde, amarela, laranja e até mesmo rosa. Além da Pedra Azul, faz parte da formação rochosa do parque a Pedra das Flores, com 1.909m de altura.

Pedra Azul, localizada no Parque Estadual da Pedra Azul, no município de Domingos Martins. Fonte da imagem: Iema 

O Parque Estadual da Pedra Azul abriga em seus quase 1.240m² de extensão uma diversidade de espécies da fauna e flora local: 51 espécies de bromélias, 126 de orquídeas e 182 de aves. Ademais, o Parque também conta com espécies de tatus, veados, araras, arapongas, macacos barbados, saguis, serpentes, além de espécies em extinção, como a onça-parda, o sagui-da-serra, o tamanduá-mirim, entre outros . Com sorte, esses animais podem ser avistados nas trilhas de visitação. 

A região é uma das mais visitadas do Espírito Santo, em especial no inverno, quando o clima frio e a paisagem são atrativos dignos de cinema. A Rota do Lagarto que atravessa a região também é uma das mais visadas pelos turistas. Ao longo de seus 7km, é possível desfrutar belas paisagens da reserva natural, além de restaurantes e pousadas.

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Published in 27/07/2021

Updated in 24/09/2021

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