Salões Parisienses

01/01/160101/01/1901

Ao longo da história há algumas ações que estiveram muito presentes na existência humana: a vivência em comunidade, a relação próxima com a natureza e o fascínio pelo desconhecido. Podemos dizer que a evolução humana é movida pela curiosidade e pela descoberta, e que tradições, crenças e mitologias, são frutos de uma existência pautada na observação do outro e de seu entorno, motivando o interesse em colecionar. 

Segundo a crença mitológica, na Grécia antiga, atribui-se à figura das musas o papel de ajudar os homens a esquecer seus problemas. Em agradecimento, esses homens deixavam oferendas nos templos; escudos, vasos, jóias e esculturas, artefatos que acabavam formando uma coleção. Musa é uma palavra originada da expressão grega Mouseion. Esse termo, que futuramente evoluiria para Museus, hoje intitula os espaços que reconhecemos como sendo das artes, da ciência, do saber, reunindo diferentes tipos de produções artísticas e formando coleções..

Porém, a formação do museu se associa a outro ponto presente nesse conto mitológico, e que vai além da evolução etimológica da palavra: o ato de colecionar, como observa NEIVA, Simone e PERRONE, Rafael (2013) no artigo A forma e o programa dos grandes museus internacionais: 

“(...) embora as obras estivessem ali expostas mais para as divindades, do que para serem observadas pelos humanos, a reunião de peças faz surgir a primeira coleção de arte. Assim, o museu se origina do ato, inerente ao homem, de colecionar.”

Os Gabinetes de Curiosidades do séc. XVI, considerados espaços antecessores aos museus, também surgem do ato de colecionar. Os Gabinetes reuniam objetos de diferentes tipos que eram encontrados ao longo das expedições aos novos continentes, formando curiosas coleções.

As navegações ao chamado “novo mundo” foram um dos fatores que contribuíram no fortalecimento da ideia de colecionismo ao longo dos séculos XV e XVI, pois são nessas viagens que objetos eram coletados como registro das expedições e memórias de experiências vividas no estrangeiro. Antes mesmo disso, no século XIV, o interesse por coleções pode ser atribuído à ideia do homem no centro do universo, presente durante o período do Renascimento. Essa forma de ver o mundo fez com que a Arte, a Cultura, a Filosofia e a Ciência ganhassem espaços de destaque na sociedade da época. Contexto que favorece e valida o fascínio pelos objetos adquiridos nas expedições e que passam a ser colecionados, estudados e contemplados. 

Nesse cenário, mais um passo é dado em direção ao que se tornaria o museu moderno, mais próximo do que conhecemos hoje. A popularização do colecionismo e a crescente dos ideais renascentistas propiciam o surgimento dos Salões Parisienses, considerados as primeiras mostras de arte. Os Salões Parisienses (séc. XVI) eram reuniões de homens e mulheres nobres e eruditos, para debaterem sobre eventos da época e também sobre assuntos como filosofia, literatura, moral e arte. 

Como a maioria das manifestações do período, esses espaços eram criados, mantidos e difundidos entre aristocracia. Os Salões de Paris eram também lugares nos quais os mecenas, poderosos comerciantes ou membros da nobreza, com príncipes, condes, bispos, que financiavam a produção artística como forma de obter reconhecimento e prestígio na sociedade.

No salão, uma profusão de obras se apresentavam aos espectadores: as pinturas, por exemplo, ocupavam toda a parede do espaço, desde o limite do chão até o teto. As obras que estavam em evidência pertenciam aos mecenas de mais prestígio e posses; as extremidades das paredes eram ocupadas por obras de colecionadores com menos poder aquisitivo e ou nobreza. Esse mecanismo evidenciava o status dos mecenas e, por consequência, o prestígio do artista.

Un Jour de vernissage au palais des Champs-Élysées (1890) par Jean-André Rixens   

A estrutura de apresentação dos quadros, lado a lado e por toda a parte, revela uma compreensão da obra de arte enquanto objeto autônomo; que não se perturba com a presença de obras vizinhas. Nesse sentido, a moldura era compreendida como um recurso que estabeleceria limite entre as obras, como se cada quadro tratasse de um tema específico e a moldura isolasse uns assuntos dos outros. Com as vanguardas modernistas, esse pensamento é colocado em debate. Veja a seguir uma imagem que ilustra como eram os Salões e como as obras eram apresentadas.

François Joseph Heim : Charles X distribuindo prêmios para artistas que expõem no Salão de 1824 no Louvre, 15 de janeiro de 1825   

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Published in 15/04/2021

Updated in 12/06/2021

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